Crítica: A Oeste Do Fim Do Mundo

“É um filme sobre perdas”, “Cada um deles sofreu perdas bem distintas”, “O que os une é a fuga do passado”, “Eles tentam ao máximo não se abrir entre si, pois sabem que, por mais que estejam tentando fugir, o passado os acompanha todo momento”, “Isto é algo que move todos os sentimentos do filme” e “A amplidão te deixa pequeno que não vale a pena se esforçar muito para entender as coisas”, disse Paulo nascimento.

Por Fabricio Duque

Se pudermos definir o cinema que Paulo Nascimento (de “Teu Nome”) faz em uma palavra, então seria identidade, cuja metáfora extrapola os limites físicos e entendimentos do próprio ser. Em seu novo filme “A Oeste do Fim do Mundo”, de nome pomposo e de efeito, o diretor “viaja” ao deserto, que se apresenta como passagem (aos que cruzam), mas também como ponto de recomeços existenciais. A personificação utiliza-se a ambientação de um posto de gasolina situado em um lugar inóspito, perdido, de tempo parado, de sensação estabilizada ao comodismo do impedimento de “entrar em contato com os próprios erros, desgostos, traumas e tristezas”. É silencioso e que os únicos sons ouvidos são o barulho do “vento” e de uma porta emperrada. Com coprodução argentina e a maioria dos “poucos” (iniciais) diálogos não abrasileirados, o filme tem atmosfera visual de formato digital (gravado em 5D Mark III) e se mostra por ações cotidianas banalizadas e de necessidades simplistas, como um prato de comida, perder o horário do ônibus, procurar uma carona ou encher uma garrafa de água. Se anteciparmos uma possível conclusão, perceberemos que é um longa-metragem de equilíbrio incisivo. Meio a meio. Há excelentes vários momentos para se perder em vários próximos. Um ciclo corajoso, de inocência amadora, criando o limite tênue entre caricatura afetada e maestria fílmica. “Parece que quanto mais longe do Brasil melhor, né?”, pergunta-se retoricamente. Talvez, um receio a “experimentar demais” tenha dado o tom de uma previsibilidade recorrente. O roteiro possui mais “altos que baixos”. Conta-se, em elipses, com um cenário incrível e uma fotografia magnífica de atemporalidade glacial, mas a escolha da música (que pulula e permeia todo o filme) gera cansaço, repetição e um sentimentalismo desnecessário, que se intensifica pela encenação teatral (mitigando credulidade e aprofundamento natural dos dramas dos personagens). Logicamente, percebemos a direção apaixonado, passional, de “alma boa”, utópica, “revolucionária” ao contrário (de dentro para fora), e assim, os espectadores vão se afeiçoando à trama e aos que a compõem. “Você vê alguma diferença de lá (um lado da estrada) e lá (o outro lado da estrada)?”, diz-se. Aos poucos, ficamos no filme, e os “erros” tornam-se “relevados”. Talvez por ter intercalado explicações prévias, mesmo clichês. Talvez pela necessidade de se “parar de fazer perguntas”, talvez pela aceitação de serem “losers (perdedores)”. Também ficamos neste lugar de passagem, transitório e de “descanso” às tragédias enraizadas que cada um vive a sua maneira e com seu devido tempo de resolvê-las. “Liberdade é não fazer perguntas”, obriga-se não sendo “grosseiro”, mas sim “sincero”. Eles vivenciam a “estrada”, a vida “Easy Rider” e “a última coisa que sobra da pátria é o idioma (língua)”. Busca-se saber e ser quem é, contudo preferem a resignação de um instante ao confronto da “renovação”, traduzida aqui como extremamente “subjetiva” e “barulhenta” pelos “estrangeiros”.