Crítica: Paraíso

Por Fabricio Duque
Festival do Rio 2013

No seu segundo longa-metragem, “Paraíso”, da diretora mexicana Mariana Chenillo (de “Cinco Dias Sem Nora”), que foi “inicialmente convidada para escrever o roteiro”, o tema não quer atingir a “caricatura” dos preconceitos sobre a obesidade, tampouco “tentar ser uma campanha de saúde”, mas sim “seguir os sentimentos dos personagens e explorar amor, intimidade e relacionamentos”. O conto (escrito por Julieta Arévalo) é “semelhante e diferente” ao filme, porque a diretora “estava entrando em um mundo” que não era o dela. “Tive que aprender a torná-lo meu”, disse na entrevista ao jornal O Globo e complementa que “a vulnerabilidade que sentimos quando nos vemos fora de nosso meio”. Mais de oitocentas mulheres foram entrevistavas para a protagonista da atriz Daniela Rincón. Quando o filme foi exibido no Festival do Rio do ano passado, os adjetivos mais usados foram “divertido”, “delicioso” e “fofo”. Sim, faz jus. Mas há muito mais nas entrelinhas despretensiosas. A diretora “acerta” o tom e utilizando a narrativa de naturalidade sentimental envolve o espectador nos desejos internacionalizados de seus personagens, traduzidos em “quereres”, dietas, o auto bullying, a sabotagem motivacional e a “possibilidade” de ser outro “eu” (mais popular). A ditadura da social de se basear na magreza com a “desculpa” de estágio saudável estimula a “paranoia” e uma cruel pressão. Aqui, um emagrece. O outro não consegue. As consequências desta comédia dramática de situações despertam uma vulnerabilidade da, já aceitada, condição existencial, que afeta e impede que o físico aconteça. O roteiro foge da estrutura de gatilho comum tão recorrente no gênero de comédias românticas ao extrair a sensibilidade crítica sem o argumento “xiita” de se “levantar bandeiras”. “Não é mais fácil fazer filmes no México, é apenas uma luta diferente”, finaliza a diretora.

Namorados desde a infância, Carmen e Alfredo vivem felizes em um município próximo à Cidade do México. Quando Alfredo é promovido, o casal é obrigado a se mudar para a capital e se adequar à rotina da metrópole. Os novos valores e relações fazem os dois encarar uma condição antiga, mas que pouco os preocupou até aqui: ambos estão bastante acima do peso. Incomodados com os comentários maldosos que chegam aos seus ouvidos, os pombinhos decidem trocar donuts por saladas. Mas novos problemas surgem quando apenas um deles começa a emagrecer. Produzido por Gael García Bernal. Toronto 2013.