Crítica: Não Pare Na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho

Por Fabricio Duque

Uma das consequências da convergência midiática, ou melhor, integrar a televisão ao cinema, é a perda da identidade. Há desconstrução dos elementos intrínsecos a cada um. Se antes tínhamos folhetim popular versus experimentação contextual, hoje não há mais definição estrutural. No filme em questão aqui, “Não Pare Na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho”, nós podemos detectar as duas mídias já mencionadas mais uma terceira, a literatura. Não entremos no quesito maniqueísta deste questionamento proposto, mas sim nas consequências que esta estratégia gera. Provavelmente, quando se opta por este gênero “híbrido” é porque não se deseja sair da zona de conforto, utilizando-se dos gatilhos comuns já aceitados e “digeridos” pelo público televisivo que vai ao cinema. A narrativa romanceada ajuda a conservar o espectador no “sofá de casa”, com suas frases coloquiais e repetitivas de fácil assimilação, com “flashbacks” também repetitivos (a fim de massificar o que se vê) e com reviravoltas sentimentalistas para que lágrimas sejam derramadas. Quase tudo caminha ao óbvio ululante e à previsibilidade. Quase tudo. Em “muitos” certos momentos, somos surpreendidos por mudanças drásticas de apresentação estética (por exemplo, a câmera “microscópica” que acompanha a “viagem” lisérgica dos psicotrópicos, e ou a cópia não “cópia”, baseada no personagem que foi “traduzido mais que Shakespeare”, e ou as frases que quebram a sensação do próprio efeito). É como se o equilíbrio fosse medido por altos e baixos, fornecendo dois tons que no contexto se complementam. O diretor brasileiro Daniel Augusto (dos documentários “Amazônia Desconhecida” e "Mapas Urbanos 2 - Recife dos Poetas e Compositores" - Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo, tendo como dissertação de mestrado, João Guimarães Rosa), estreante em um longa-metragem de ficção, escalou os atores Ravel Andrade (impecável – irmão de Júlio na vida real) para a primeira fase e Júlio Andrade (o ator de “metamorfose improvisada” e de sensacional maquiagem na terceira fase - pela mesma equipe responsável pela função em "O Labirinto do Fauno"). Gostando ou não, é fato que Paulo Coelho é o escritor brasileiro mais lido de todos os tempos, tendo ultrapassado a impressionante marca de 100 milhões de livros vendidos em mais de 50 países. Seu maior sucesso, "O Alquimista" vendeu cerca de 65 milhões de cópias em todo o mundo. A “cinebiografia” foca em pontos cruciais, mitigando os polêmicos. É um filme pró-Paulo Coelho e um filme para toda família assistir junto. Inevitável não inferirmos referências fílmicas. Há “Bicho de Sete Cabeças”, de Laís Bodanzky; “Somos Todos Jovens”, de Antonio Carlos da Fontoura e claro, “Raul Seixas - O Início, O Fim e O Meio”, de Walter Carvalho, este último bem mais explícito. Aqui não chega a usar pretensão não. É mais ingenuidade passional de amor incondicional pela arte de se fazer cinema. Traduzir a literatura de Paulo Coelho à tela (visto por muitos como um autor apenas de autoajuda religiosa) é uma responsabilidade corajosa. Trocando em miúdos, é um filme que atende aos interesses comerciais e ao público que procura televisão no cinema. Contudo, as estatísticas não mostram um resultado satisfatório. Será que está acontecendo uma nova “revolução” na escolha de um filme? Ou a inclusão “apressada” na televisão a cabo está ajudando a diminuir o público do cinema? Será que este filão chegou ao fim? Necessita-se desvincular as mídias? Concluindo, um questionamento relevante que talvez explique o porquê deste absenteísmo e que mostra um Raul Seixas reinventado pelo ator baiano Lucci Ferreira. Com aval do escritor e no período de “Diário de Um Mago”, o filme “viaja” na mesmice fragmentada e “documenta”, superficialmente, o caminho de Santiago de Compostela, “mostrando” mais o cansaço (sinestésico ao espectador) do que a transformação espiritual e não “escolhendo” as melhores histórias do “maluco beleza” “escritor”, que levou choque, que tinha sotaque carregado de carioca e que “experimentou tudo”.