Crítica: Mel

Por Fabricio Duque
Festival do Rio 2013

“Mel”, filme da diretora estreante Valeria Golino, exibido na mostra Um Certain Regard do Festival de Cannes 2012, e no Festival do Rio do ano passado, é um filme sobre moralidade social: a eutanásia como “profissão” técnica e sistemática. A “distorção da realidade” é visto pelo olho cru e distante da protagonista, que age sem culpa (“escolhendo a morte”) e com a crença de “ajudar sendo um deus” (pais católicos). Ela “oferece” covardia a quem não tem. O longa-metragem apresenta leveza como “A Vida dos Peixes”, pela fotografia (sépia saturada ao brilho) e pela câmera. Constrói-se a trama econômica, sem pressa, mas também sem lentidão, quase como um acompanhamento documental do dia-a-dia de um indivíduo e suas ações cotidianas. Trocando em miúdos, há equilíbrio narrativo que critica a sociedade atual e seus limites, conjugada com a música que une perfeitamente som (tipo “Air”) e imagem (elegante e simétrica). A “androgenia sexy” (e masculinizada) da personagem mitiga o julgamento por achar “ajuda porque são doentes terminais”. A naturalidade de sentir pena questiona a hipocrisia. Quem está com a razão? “A idiotice contemporânea não conhece limites”, diz-se entre quinquilharias, memórias, mudanças pragmáticas, “Hannibal” e Cate Blanchet. 


Irene vive só na zona costeira logo além de Roma. Para seu pai e para seu amante, ela é uma estudante – mas, na verdade, faz constantes viagens ao México, de onde traz drogas de contrabando. Seu trabalho clandestino tem como objetivo ajudar doentes em estágios terminais a morrer com dignidade. Um dia, porém, ela fornece uma dose fatal a um novo cliente e descobre em seguida que ele é um suicida em potencial gozando de perfeitas condições de saúde. Para não deixá-lo morrer, ela entra em uma intensa relação. Cannes 2013.