Crítica: As Lágrimas

Por Fabricio Duque
Festival do Rio 2013

“As Lágrimas”, exibido no último Festival do Rio 2013, busca a atmosfera de naturalidade cotidiana pop e de nostalgia contemporânea, ao usar Sonic Youth, “Laranja Mecânica” e “Onde Vivem Os Monstros”. A direção é de Pablo Delgado Sánchez, seu filme de graduação no Centro de Capacitación Cinematográfica. O som ambiente suaviza o silêncio. A depressão cresce e se instaura, personificando em tela um existencialismo respeitado pelo elemento temporal. O leite (alimento do crescimento físico) metaforiza o irmão “bad boy”, o outro “carente” e a mãe “ausente”. É um filme de adjetivos, que não se constroem, apenas são retratados. Aos poucos, papéis são trocados por necessidades, como a importância sentimental e assim as brincadeiras e picardias saudáveis entre os irmãos os unem. Embarcam numa viagem “on the road” sem tempo, à princípio. A jornada inclui bad trip, estágios defensivos de fuga, alcoolismo, conflitos da própria convivência do dia-a-dia (que atrapalham e geram “irritações”). A “ajuda” faz com que o mais novo experimente a possibilidade de “estar tendo” um pai por um irmão substituto. A fotografia, parecendo 16mm, encena um congelamento do tempo, mesclando saudade e querer utópico (digno do ser humano). No final, tenta-se explicar tudo de uma vez, gerando a correria narrativa, desnecessariamente. A fábula de um dia “respira” esperança de fazer dormir sofrimentos e situações que não podem ser modificadas. O longa-metragem ganhou o prêmio Carte Blanche para pós-produção no Festival de Locarno. 

As férias de verão são tradicionalmente um período longo e chato para os irmãos Fernando e Gabriel. Enquanto a mãe lamenta a ausência do pai dos meninos, eles têm de se cuidar sozinhos. Fernando é autodestrutivo e bebe compulsivamente em festas, enquanto Gabriel passa bastante tempo na frente da televisão. A possibilidade de acampar oferece aos garotos uma promessa da calmaria da natureza. Todavia, na viagem afloram sentimentos como raiva e mágoa, capturados em cenas e situações improvisadas. Festival de Roterdã 2013.