Por Fabricio Duque
A nova fase cinematográfica do
diretor francês Jean-Luc Godard, utilizando-se da convergência midiática, fez
escola e influencia muitos brasileiros na arte fílmica. Um deles é Arthur Tuoto
e seu “Aquilo que Fazemos Com as Nossas Desgraças”, exibido na mostra
Tiradentes e na mostra Cinema de Garagem. O filme representa o gênero
conceitual, de autoria estética, que busca o conteúdo subjetivo a contar uma
história. Outro elemento é a passionalidade transposta, de ingenuidade utópica.
A narrativa mescla formatos e estruturas, com narração em diálogo na língua
francesa, descreve a condição humana a partir de percepções trágicas, em tom de
fábula realista, adjetivando os “vilões” da atualidade (capitalismo, juventude
“idiota” e violenta e o próprio dinheiro), com a maior parte do tempo de
acontecimentos do ano de 1988, como Monstros. Questiona-se o existencialismo
intrínseco das formas físicas e comportamentais. O diretor “apropriou-se” da
experimentação repetitiva, em curtas-metragens, que podem ser “explorados” pelo
espectador no site arturtuoto.com, inferindo Eduardo Coutinho e seu “Um dia
na Vida”, o “proibidão” (por causa dos direitos autorais). Aqui, pensa-se sobre
como usamos e consumimos a informação gerada. “Todo mundo pode gerar conteúdo
hoje em dia”, disse Hadija Chalupe, da UFF, no encontro Perspectivas da Uerj. É
inevitável não “exercitar a observação”, cruzando estéticas midiáticas a fim de
proporcionar uma visão única, individualiza e não pensada no público
“consumista”. Em “Aquilo que Fazemos Com as Nossas Desgraças”, o que se ouve
está na escuridão da tela, metaforizando um “luto” atual de contar segundos ao
apocalipse inevitável. O “documentário”, se é que podemos chamá-lo assim,
confronta e “retira” o espectador da zona de conforto. Não é palatável. E esse
é o objetivo: não ser. O que se busca na verdade é um ensaio antagonista (e
extremamente maniqueísta) do bom e do mau; do mocinho e do bandido, do certo e
do errado, em contrastes ambíguos de “personagens” que se utilizam do mimetismo
como forma de “prostituição” sobrevivente. Dança-se conforme a música, e por
incrível que pareça, os “monstros” acreditam que assim estão “protegendo” uma
sociedade que cada vez mais vivencia o egocentrismo. A utopia salva. A
percepção da realidade cega. Só estaremos a salvo pela ingenuidade alienante de
um retorno a nós mesmos.