Crítica: Uma Relação Delicada

Por Fabricio Duque

Quando se mistura a cinematografia experimental da diretora Catherine Breillat (de “Romance”, “Anatomia do Inferno”, “A Última Amante”) com o “desprendimento” interpretativo de Isabelle Huppert (de “Tip Top”, “A Religiosa” que a cada dia tenta ser a versão feminina de Marlon Brando – ao buscar a desconstrução, escolhendo papéis inusitados e polêmicos – e trabalhando com diretores “não convencionais” e estreantes, como “Em Nome de Deus”, de Brillante Mendoza, “Minha Terra, África”, de Claire Denis, “8 Mulheres”, François Ozón, entre tantos outros), o resultado é a estranheza, no melhor sentido da palavra, presente no filme “Uma Relação Delicada”, anteriormente traduzido como “Abuso de Vulnerável” (no Festival do Rio quando foi exibido), que retorna na programação do Festival Varilux de Cinema Francês 2014. “Sempre temos mais esperança que desespero”, diz-se. Uma das características desta atriz é a desconstrução da própria carreira, optando pela experimentação de estilos, narrativas. Pela síntese ou pelo exagero (talvez os dois elementos em uma única cena), sua interpretação tende a sair do convencional, escolhendo “papéis inéditos” (expressão cunhada no encontro com Susana Schild do jornal O Globo na pré-estreia do filme no Maison de France, no Rio de Janeiro). É inquestionável a flexibilidade da atriz de incorporar personagens. Busca-se o excêntrico, o diferente, o que sai da zona de conforto social. O longa-metragem, corroborando a estética cinematográfica da diretora, fornece ao espectador um “tempo-amador”, aliado com uma pseudo-ingenuidade francesa. Critica-se o oportunismo da vulnerabilidade, quando se excede o cuidado. A necessidade vicia-se em obter privilégios, muito pela opinião pública da sociedade em transformar "incapacidades" em incapacitação, gerando uma "sobrevivência" mimada. Indiscutível o desconforto de quem assiste. E já por isso “Uma Relação Delicada” torna-se obrigatório e único.