Crítica Convidada: Transcendence - A Revolução [Por Filippo Pitanga]

Errar não é mais "humano", é Transcendence

Por Filippo Pitanga

Muito esta se comentando sobre os fracassos recentes de bilheteria do divo alternativo Johnny Depp. Em parte isto se dá pelo pastiche que ele andou escolhendo em suas caracterizações (mesmo que costume ser o melhor nelas), exagerando na maquiagem e trejeitos repetitivos. Raros foram os trabalhos não caricaturais, como o fraco Diário de um Jornalista Bêbado, e, agora, prenunciava igualmente ser o “Transcendence - A Revolução” (idem - 2014, de Wally Pfister, experiente como diretor de fotografia dos filmes de Christopher Nolan e oscarizado por “A Origem”, porém inexperiente como diretor). Porém, mesmo começando positivamente descaracterizado e com premissa instigante na primeira terça parte do filme, uma pretensão desmedida por parte do roteiro de Jack Paglen (do seriado “Black List”) faz o filme sair da chance de ser relevante como sci-fi indie e tentar virar blockbuster transcendental. Pena. Tudo de promissor, sutil e subentendido vai se perdendo vertiginosamente numa trama inicial válida sobre inteligência artificial e dominação dos computadores em nossas vidas. Smartphones, redes sociais... tudo é tão público e pode prever nossas tendências e personalidade, que não seria impossível imaginar quando as máquinas adquiririam personalidade também. Então por que não transportar a de uma pessoa para um computador? "Vida eterna"? Consciência coletiva. Ética científica... Temas bastante interessantes, até não se satisfazer em fechar bem cada um deles e já ir acrescentando outros: Nanotecnologia; Automação; Especulação Financeira; Clonagem, e por aí vai ainda mais exagerado e megalômano conforme o ego da persona de Depp vai aumentando e achando que pode ser Deus. Não surpreende que é aí que sua atuação fica... sim...mais caricatural! – bem como atropela todos os gêneros além da ficção, como drama (à la “Amor” de Haneke), policial (tipo “Inimigo do Estado” de Tony Scott) e até romance (estilo “Ela” de Spike Jonze). Com um elenco de alternativos, como Paul Bettany e Cilliam Murphy e a péssima Kate Mara (irmã da melhor parte da família Rooney Mara), e de mainstream como Morgan Freeman, quem acaba capitaneando não é nem Depp, e sim a personagem de sua esposa, Rebecca Hall (de “Vicky Cristina Barcelona”), mais uma vítima de um roteiro difuso e castrativo, onde de "gênia" vira uma palerma cega, e todos os outros viram impotentes não obstante FBI, CIA e exército dos EUA do lado deles. Sem falar que, mesmo evitando se falar em "spoiler" aqui, o final é completamente inverossímil, pois, se aplicado na vida real, com as consequências seriam piores do que o mal que eles queriam curar (como aviões caindo, pessoas a roubar e pilhar nas ruas, doentes plugados em hospital subitamente morreriam, etc... – mas ingenuamente nada disso ocorre no filme, não se preocupe com spoilers, mas daí a inverossimilhança)! E ainda faz mil referências a clássicos que fizeram muito melhor do que ele, como filmes de Cronenberg, às vezes se aproximando quase do trash como “Resident Evil - O Hóspede Maldito”, pois o mega computador coincidente em ambos os fillmes criam seres sem vontade própria análogos a zumbis -- ou seja, um pastiche que até fez um desserviço pra classe de ficção científica já vista infelizmente como primo pobre do cinema, apenas para aficionados...