Crítica: Sebastiane

Por Fabricio Duque

“Sebastiane” integra a filmografia do britânico Derek Jarman, que divide a direção com Paul Humfress. O longa-metragem de 1976 aborda a visão do diretor sobre o cristão (canonizado mais tarde) Sebastiane, ou Sebastião, o padroeiro do Rio de Janeiro. Há quase trinta e oito anos, Derek experimentava referências ao novo realismo italiano (pela estrutura narrativa de passionalidade exacerbada) e ao cinema do chileno Alejandro Jodorowsky (pelo contato com a natureza – animais, que representam a metáfora da religião como o porco para os judeus, e os insetos, que são induzidos a representar papéis humanos). Explicitamente, uma “exposição” futurista de instalação (visto que a última cena é traduzida pela lente olho de peixe). A arte passeia por imagens em movimento como obras de arte, pela dança realista e coreografada, pela música transcendental new age de Brian Eno, pela câmera lenta que induz o desejo erótico entre dois homens – em detalhes, sem ser gratuito tampouco agressivo, e pela fotografia que brilha nos corpos loiros e torneados, estimulando a intenção brutal da “testosterona”. A necessidade da masculinidade para inibir possíveis vulnerabilidades amorosas (a declaração com a resposta repulsiva). “Sebastiane” representa a persistência de um cristão em seguir as regras da Igreja, não cedendo aos instintos mais primitivos de seus “colegas” soldados e de seu “superior”. Um filme à frente do seu tempo, desenvolvendo-se aos poucos, sem correr, mas também ser lento. As ações são extraídas pelos olhares, pela poesia cinematográfica de permanecer no amadorismo (proposital), a fim de conservar a nostalgia de uma época passada (fornecendo credibilidade à trama). Concluindo, um filme sensual sem ser pornográfico, libertário nas identidades sexuais, crítico às limitações intrínsecas das escolhas religiosas.