Crítica: O Homem Duplicado

Por Fabricio Duque

“O Homem Duplicado” apresenta-se como o mais recente filme do diretor
Denis Villeneuve, que atingiu o respeito internacional por sua obra-prima cinematográfica “Incêndios”. Aqui, o cineasta volta a trabalhar com o ator Jake Gyllenhaal e assume a responsabilidade de traduzir em tela o romance “O Duplo” do escritor português José Saramago. Denis, que também escreve o roteiro adaptado, cria a atmosfera de uma ficção científica existencialista, utilizando-se do suspense psicológico para personificar estágios mentais, como a esquizofrenia, e discursos de filosófica física, do outro "Enemy", passeando por uma possível repetição da mesma vida abordada por Hegel, complementada por Karl Marx e soando tipicamente como uma crítica comportamental a nossa sociedade atual, que age com distrações, limitações, fornecendo “pão e circo”, mas desprezando a cultura a fim de dominar e matar no final. Esta “ditadura” induz a metáfora da aranha, que assassina o macho após o ato sexual. Pela trama, podemos inferir que esta sociedade que vivemos instiga o desejo, proporciona o consumo e aniquila o indivíduo no final do processo da vida. São “diversões” momentâneas, estruturadas e incisivas, que possibilitam ao ser humano modificar o foco do crescimento pessoal com a sensação de estar adquirindo a “felicidade” proporcionada (e desmedida), porém já definida. Assim, o “caos ainda é indecifrável” do início serve para confundir quem acha que o universo está sobre controle, sendo permitida uma “loucura” de experimentar o que quisermos ser, criando um mundo único em nossa mente: individual, carente, egoísta e solitário. Quando por um único momento nós percebemos que talvez sejamos apenas marionetes de um planeta indeciso, “brincalhão”, destrutivo, cruel, desnorteado e sem ética, então por um único momento tudo faz sentido. A narrativa imprime um “noir” colorido de constantes elipses. A fábula surrealista de Saramago está respeitada, por mesclar thriller, “viagens” mentais e referências como “Vanilla Sky” ou “Abre Los Ojos”. Concluindo, um filme que merece ser assistido principalmente pelo roteiro que opta por não se explicar, deixar a autointuição e respeitar a inteligência do espectador. Denis Vileneuve está de volta! E em grande estilo! O que você faria se descobrisse que tem um sósia, alguém que é o seu retrato fiel, o mesmo rosto, o mesmo corpo, a mesma voz?