Crítica: Inside Llewyn Davis

A Balada dos Irmãos 
Nada Comuns

Por Fabricio Duque

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Uma das características da filmografia dos Irmãos Coen é a forma como compõem a narrativa. Apresenta-se o nada para se possa explorar despretensiosas ações cotidianas (quase banais). A complexidade traduz-se pela simplicidade naturalista de se contar a história. Concordando com as palavras de Marcelo Janot, Ethan e Joen “descobriram” a fórmula de se fazer cinema com qualidade. Não erram mesmo, imprimindo camadas existencialistas sem a utilização do clichê. Seus filmes representam um momento, um instante, transpassando à tela grande o elemento surreal crível da própria vida. Em “Inside Llewyn Davis”, utiliza-se o gênero folk a fim de corroborar de uma vez por todas a essência cinematográfica. Na trama, um artista tenta sobreviver com sua música “que nunca envelhece”, que não “estimula” produtores a ganhar dinheiro e que faz o próprio pai “cagar” (literalmente). O estilo musical, no campo intrínseco, representa o “desabafo” terapêutico de uma época (melodia de sinceridade do que vem da mente e do coração). O sofrimento ajuda a suportar as inevitáveis e iminentes “pedras” do caminho e as obras do acaso, que conduzem o roteiro “submarino”, suavizado no início e visceralmente emocional ao longo da película. A fotografia estilizada saturada a um prata nostálgico (e concreto) cria a sinestesia. O espectador “mergulha” completamente na odisseia de um homem comum com seus anseios, esperanças e sonhos, quase uma alusão “Ulisses” de ser. Assim, nós nos tornamos cúmplices, e questionamos nossa própria vida e nosso próprio caminho. É possibilitado espelhar-se no protagonista, pensando-se quantos “Llewyn Davis” existem, mostrados em um road movie de tipos idiossincráticos, sem os julgar, apenas retratando o que realmente são (e ou o que querem expôr). Não há como o espectador sair “impune”, principalmente pela edição em elipse e pela interpretação realista (resignada ao limite da revolta) de seu elenco. Podemos nos “deliciar”, melancolicamente, com o personagem principal homônimo (vagamente inspirado em Dave Van Ronk, que no passado fez amizade com vários músicos conhecidos, como Bob Dylan, mas jamais atingiu o estrelato), o ator Oscar Isaac (de “Drive”, “O Legado Bourne”), “aplaudir” John Goodman (de “Argo”, “Os Caçadores de Obras-Primas”), “referenciar” Garrett Hedlund ao movimento beatnick (de “Na Estrada”), “aproveitar” os coadjuvantes, como  Carey Mulligan, Justin Timberlake. Como já foi dito, não tem erro. Definitivamente, no décimo sexto filme, os Irmãos Coen (de “Arizona Nunca Mais”, “Onde Os Fracos Não Têm Vez”, “Queime Depois de Ler”, “Fargo”) possui nas mãos a “fórmula” do sucesso.