BERLINALE 2014: Resumão (antes da Premiação)


Por Fabricio Duque


É mais do que compreensível ocorrer um tempo à adaptação de se estar cobrindo um festival internacional. Com o Berlinale, Festival Internacional de Cinema de Berlim, não poderia ser diferente. E levou um tempo maior, até porque aqui é completamente diferente do Festival de Cannes, por exemplo. Se na França, foca-se na imprensa e nos convidados, em Berlim, o público pode conferir todos os filmes, comprando ingressos  e os assistindo junto com o próprio juri oficial (em muitos casos). Digamos que se parece com o Festival do Rio, por causa da diversidade de mostras e cinemas. Assim, a “jornada” diária é cansativa, com cabines de imprensa às 08 e 30 da manhã, seguida de coletiva, seguida de outra cabine às 12 horas, seguida de coletiva, seguida de outra (variando das 15 às 16 horas o início), seguida de coletiva, seguida de outros filmes de outras mostras (Forum, Forum Expanded, Panorama), terminando o dia por volta das 23 horas. 


Acostumando-se Com a Correria


Logo de imediato, o que assusta, talvez é o clima frio. Mas este ano Berlim resolveu “presentear” os brasileiros mudando a temperatura de -12 para +6. Os dezoito graus transformaram a cidade em um estado sulista do nosso país. Resolvido o fuso horário, desvenda-se aos poucos os segredos do Festival. É mais simples do que se parece. Desde o requerimento (online), a flexibilidade se faz um fator recorrente. Sem hierarquia de imprensa (diferente do Festival de Cannes), apresenta-se mais “descolado” e menos “complicado”. Se a cabine é “perdida” (por cansaço, lógico), então outros horários podem ser “encaixados” (retirando-se os ingressos na própria área da imprensa), sempre com água e releases dos filmes a vontade. Chegando cedo, há mais possibilidade de se conseguir a retirada de convites. 


Os Filmes
 
Este ano, a edição 64 do Berlinale optou, na maioria, por “explorar” o universo infantil, o colocando nos papéis de adultos. 


O Festival mostrou-se “moderninho”, como sempre é, chamando a comediante Anke Engelke para imprimir o típico humor alemão e o rock-pop de The Asteroids Galaxy Tour (que cantou “Lust for life”, de Iggy Pop). Vivenciando Berlim, conseguimos entender a estrutura adotada. A cidade “vive” em constante reconstrução (nazismo, holocausto, guerra fria) e “parece” um grande bunker ao céu aberto, reverberando “opiniões” firmes, porém respeitosas de seus moradores. 


Nada mais compatível que abrir Berlinale com “THE GRAND BUDAPEST HOTEL”, de Wes Anderson. O filme corrobora o estilo do diretor, unindo excentricidade de realismo fantástico com humor “estranho” e fantasioso. Na plateia, Tilda Swinton vestindo “David Bowie” e um elenco com sorrisos-picardias. O longa-metragem integra a lista da mostra competitiva oficial.


Amanhã, sábado, dia quinze de fevereiro, conheceremos os premiados ao Urso de Ouro e aos Ursos de Prata. Na competição, o alemão “JACK” (naturalidade no cotidiano de uma criança que busca juntar sua família); “TWO MEN IN TOWN” (baseado no filme homônimo com Forest Whitaker, apresenta-se como um drama catártico da redenção de um homem); do Reino Unido “´71” (com estilo “Guerra ao Terror”, retrata de forma quase sensorial – pela câmera – o resgate a um soldado); da Alemanha “BELOVED SISTERS” (novela romanceada com quase três horas de duração e com humor alemão para construir a narrativa); “STATIONS OF THE CROSS” (obra-prima que mescla Lars von trier e Michael Haneke – Urso de Ouro); “HISTORIA DEL MEDO” (sobre a “ameaça” da classe social menos privilegiada – estilo “O Som Ao redor”, só que bem mais fraco – considerado uma das “bombas” do Festival); da China vem “TUI NA” (a jornada visceral e violenta de um deficiente visual); o dinamarquês-noruegues “KRAFTIDIOTEN” (a narrativa em “ordem de desaparecimento” insere uma novidade narrativa na mesmice “batida” da estrutura americana); o francês “AIMER, BOIRE ET CHANTER” (caminha pelo teatro filmado em realismo interpretativo – cansativo e longo – mas curioso); o alemão “IN BETWEEN WORLDS” (a “bomba” do festival – perdido, sem equilibrio e tentando copiar técnicas de cinema comercial americano); o brasileiro “PRAIA DO FUTURO” (corrobora o estilo mais conhecido do diretor, que filma “com o coração” e com extrema sensibilidade); o grego “STRATOS” (retrata totalmente o estilo grego de ser: repetições verborrágicas e olhares de observação explícita – cansativo e longo – talvez por ser feito especificamente para seu país); o argentino “LA TERCERA ORILLA” (representa a naturalidade cotidiana da vida de um adolescente – irmão mais velho – com narrativa em elipse, deixa várias questões em aberto); “ALOFT” (um melodrama de auto-ajuda fast food – a grande “bomba” do festival – troféu Framboesa); o chinês “BAI RI YAN HUO” (visceral, violento e narrativa estilo “Lady Vingança”); também da China “NO MAN’S LAND” (fantasticamente violento e surreal – um faroeste spaguetti com estilo Tarantino e coreano); “BOYHOOD” (perfeição na realização cinematográfica – acompanha doze anos a vida do filho de uma família comum americana); “MACONDO” (estrutura naturalista dos filmes do Kechiche – muito bom) e o japonês “THE LITTLE HOUSE” (a odisseia de uma família com inversão de valores ao colocar a traição matrimonial de uma mulher japonesa).