Pré-Crítica: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

A Pré-Crítica Sem o "Não"

Por Fabricio Duque

Depois de um tempo vivenciando (auto) massificações, repetidas na mesmice de ações ditas intrínsecas e naturalistas ao caminho “escolhido”. É inevitável que certos comportamentos sejam confrontados pelo próprio eu. Uma das opções possíveis ao indivíduo social na arte de conquistar outro indivíduo social é o olhar. O que se vê estimula o querer do “consumo”. Assim, há cinquenta por cento de um para com o outro. De lá, a outra metade define um encontro, que se inicia pela atração. Talvez este seja o elemento sensorial mais importante. Não há como negar. Nosso cérebro observa ao seu redor rostos, corpos, tamanhos, idiossincrasias, limites, excessos e faltas, comportando-se como um computador que busca a compatibilidade visual. A “embalagem” é a apresentação. O conteúdo vem depois. Sempre depois. Por isso, filosoficamente, alguém que não enxerga possui “extras” de sensibilidade. Nós paramos e geramos o momento representado do questionamento. Então, como a sexualidade de um deficiente visual é estimulada? Como saber a própria opção sexual? Pelo toque? Pela conversa? Afinidades são geradas, sem limites e sem ressalvas, visto que a percepção obviamente é modificada. O preâmbulo analítico apresenta uma pré-crítica de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro. O diretor paulista, estreante em um longa-metragem, realizou os curtas-metragens “Café Com Leite” e “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, este último que inspirou o filme em questão aqui. Daniel já traça seu estilo cinematográfico, corroborando a estética da sensibilidade e conduzindo o espectador a memórias sentimentais (mesmo não que não foram vividas). Esta “sensação” é “produzida” pela simplicidade não clichê. Utiliza-se da complexidade ingênua da infância, elemento mais que buscado (e mais distante) quando se fica adulto. A “proteção” visual fornece suporte tanto do lado solidário quanto na expectativa da própria vida. Mas como não há perfeição e também não se pode ter tudo, o “benefício” de quem não enxergar com os olhos é intensificado pelo maniqueísmo do coração, instrumento que o diretor usa e abusa em suas obras. Enfim, vamos aguardar a versão estendida e estreante de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, que será exibido no Festival de Berlim 2014.