Por Fabricio Duque
“Pinta” representa a estreia do
diretor baiano Jorge Alencar em um longa-metragem, exibido na V Semana dos
Realizadores. Apresentado como “uma coreografia erótica de corpos e desejos”, em
“dublagens, dublês, remixes, covers estéticos”, o adjetivando como “difuso,
descentralizado, periférico, embriagado”, de “tema: coreochanchada extemporânea”,
e que “contém: nu artístico, zoofilia discreta e dança”, definições exacerbadas
na própria sinopse. Logo no início, o espectador é instigado a penetrar no
universo epifânico do kitsch, com narração sarcástica, detalhando sinestesias
abstratas em objetos fálicos, sungas de espelhos, o ato de urinar, danças
debochadamente sexys, chuva de um caminhão pipa, nado sincronizado de uma
piscina sem água, “porto-riquenhos meliantes”, referências quase explícitos ao
filme “O Sabor da Melancia” e aos primeiros projetos de John Walters, buscando
assim a estética do brega a fim de traduzir histórias. A narrativa mostra-se
por videoclipes digressionais de picardias visuais. A montagem de Ricardo Alves
Jr. mescla o conteúdo objetivo (e de metalinguagem cinematográfica) com
experimentações de ângulos de câmera e fotografia. “Glamour ele sente”, determina-se
o foco do espectador, imagem esta, que excede, literalmente, o tempo do
acontecimento real, como por exemplo, o choro. São esquetes de humor exagerado,
quase macarrônico, objetivando-se o riso fácil pelo escracho do gatilho comum. “A
vagina é um mistério. As relações não estão claras”, diz-se. Entendemos que “Pinta”
é dedicado ao ator David Cardoso, que atravessou períodos do nosso cinema, de 1963
a 1998, e provavelmente o homenageando na sua fase áurea, a “pornochanchada”.
Concluindo, um filme que não define seu gênero, mas que chega a ser inevitável
não despertar a curiosidade do espectador por tantos momentos de “demonstrações
estéticas”, de instantes surreais e de uma quebra na percepção de um equilíbrio
narrativo.