Crítica: O Tempo e O Vento [Por Francisco Carbone]



Apenas um grande 'hitmaker'

Por Francisco Carbone

Há alguns anos, o diretor de televisão Jayme Monjardim resolveu encarar um set de cinema pela primeira vez, e de cara um super desafio: levar as telas a história de Olga Benário, a jovem judia amante de Luis Carlos Prestes que durante a Segunda Guerra foi deportada do Brasil para a Alemanha, sendo exterminada num campo de concentração. Uma enxurrada de críticas negativas não impedido filme de ser um hit nas bilheterias. Deve ser nesse potencial que Monjardim se desdobra mais uma vez, porque de qualidade cinematográfica ele parece entender cada vez menos.

O filme tenta condensar o calhamaço épico de Érico Veríssimo em meras duas horas. Isso seria uma tarefa hercúlea para mãos hábeis; no colo do ainda inexperiente Monjardim, quase tudo se esvai. Vamos combinar que essa culpa ao menos não é ele, já que inúmeros tratamentos foram feitos no roteiro durante anos, e o resultado alcançado foi o máximo de qualidade possível. Jayme no entanto não tem mão boa para algo que precisava ser mais e maior. A mediocridade da produção é de dar pena em planos e enquadramentos, tudo muito cartesiano. Após um começo promissor, logo a verdadeira essência do filme dá as caras, com seu tom monocórdio.

Tecnicamente nada exuberante, incrível que Affonso Beato tenha sido o responsável pela fotografia chapada alcançada aqui, com zero de inspiração. Igualmente óbvia é a trilha, e a bem da verdade é que o filme só vai na boa, sem ousar um milímetro, preferindo fuçar numa zona de conforto nada agradável.

Resta ao elenco fazer milagre, e eles tentam. No centro da história da saga da família Terra-Cambará, resiste Bibiana, matriarca e viúva de 'um certo' Capitão Rodrigo. Mas no auge de um novo conflito entre terras, a idosa Bibiana recebe a visita de seu marido, que volta do além para reafirmar seu amor e recordar com ela a formação do seus antepassados e o início de suas vidas. Vividos por Thiago Lacerda e Fernanda Montenegro com o máximo de entrega e carinho, o improvável casal é o motivo maior para ir até o final com a produção (que nos anos 80 já tinha dado certo numa produção tão bonita da Globo). O resto do elenco segura as pontas bem, e Paulo Goulart está no mesmo nível de excelência dos protagonistas. Por eles, vale a conferida nessa nova tentativa vã de Jayme Monjardim se firmar como um grande diretor; por enquanto, consegue ser apenas um grande 'hitmaker'.