Crítica: Night Moves [Por Francisco Carbone]

Por Francisco Carbone

Kelly Reichardt é uma grande diretora e roteirista, sabemos disso. Seu filme anterior, 'Meek's Cutoff', provou que ela está no caminho certo e ligeiro pra se tornar uma das grandes da atualidade. E se ela sempre abriu mão de clichês e partiu gêneros, porque mergulhar em uma a essa altura? O final de sua nova produção recém exibida em Veneza decepciona a quem acompanha a sua carreira, mas principalmente a quem viu brilho e elegância no próprio filme até ali. As matizes com a qual ela pinta seu protagonista, o soturno e desajustado Josh vivido com brilho por Jesse Eisenberg, são múltiplas, e o filme me parece sempre esfregar na cara como uma grande direção pode fazer a diferença na hora de trabalhar metáforas sutis sobre a psique humana através de planos e enquadramentos. Vemos o filme acompanhar esse rapaz introvertido em reuniões de grupos de defesa ecológica, e logo percebemos que por debaixo dos panos ele age como um ecoterrorista ao lado da jovem Dena (Dakota Fanning) num plano que se desenrola com cuidado na frente da tela. A partir do momento que o conflito se estabelece e o plano sai do foco, o filme mergulha de cabeça num caminho sem volta rumo ao suspense burocrático, arranhando a beleza de sua hora inicial. Jesse permanece intacto, mas Reichardt fica devendo uma próxima vez onde o todo seja igualmente satisfatório.