Crítica: Nebraska [Por Francisco Carbone]

Por Francisco Carbone

O tempo e as pessoas. E incrível como tudo passa, o tempo passa, e quando menos esperamos, deixamos de ser filhos, viramos pais, viramos velhos, viramos descartáveis. O tempo e suas contradições, nos entrega sapiência mas nos tira disposição; nos tira muita coisa, e só resta torcer pra que tudo vá embora sem que notemos. O tempo passou pra Woody Grant. Sua esposa Kate não sabe mais o que fazer e seus filhos não conseguiram criar laços com o pai. A idade de Woody lhe fez um homem difícil e calado, a família Grant parece fadada ao silencio. De repente Woody anuncia um prêmio de 1 milhão de dólares ganho, e seu filho mais jovem resolve levar o pai pra receber tal prêmio, que ninguém acredita existir. No caminho, a família Grant será revistada, e a relação entre pai e filho sacudida. Não é a primeira vez que Alexander Payne fala sobe a velhice, os desvalidos, nem investe num road movie; sua carreira praticamente se alicerçou sobre esses temas. O requinte cênico aqui acaba casando com um roteiro excepcional e um elenco que dá o sangue e os ossos em cena, com Bruce Dern reacendendo uma chama que há muito não crepitava, enquanto June Squibb é simplesmente espetacular. Observar a viagem de Woody e família é uma prova de fogo pra quem facilmente interioriza o cinema, e Payne sabe como jogar pra plateia sempre. Com talento recobrado (depois do descartável 'Os descendentes'), o diretor faz das memórias de um homem o momento-limite onde ligamos uma chave interna pra analisarmos nossas próprias atitudes. Que seja também grande realização é um presente de todos os envolvidos para o público.