Crítica: Mentiras Sinceras

A Opinião

Por Fabricio Duque

"Mentiras Sinceras" não é o filme de 2005 dirigido por Julian Fellowes, e sim a estreia na direção do brasileiro inglês Pedro Asbeg. O longa-metragem é um exercício de metalinguagem teatral sobre a preparação do elenco para a peça "Mente Mentira", de Sam Shepard, de 1985, que o diretor Paulo de Moraes encenou em 2010, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. "A morte abre espaço para o novo", diz-se. São repetições, tentativas interpretativas, buscando sutilezas e removendo as afetações, intercalando imagens de arquivo, que servem de referência "material-bruto" para esta construção. "Viver a vida de maneira mais livre", diz-se. São atores que contam histórias fictícias sobre o começo da carreira (da personagem). Pretende-se atingir a estrutura de "Jogo de Cena", do documentarista pop Eduardo Coutinho. "Tudo em mim mente", dá-se a dica. O ator Malvino Salvador ensaia e recebe dicas do diretor da peça: "Não está bom. Você tem que se recolher. Começar concentrado", exaspera-se. "Mentiras para conviver melhor comigo", continua-se a frasear. Os atores são colocados superexpostos, sem medo de externalizar medos ("eu tremo o dia todo", sobre a estreia), anseios, capacidade de decorar os textos, substituições. A realidade vai seguindo ao lado, reinventando-se pela repetição, gerando a provocação de uma eterna novidade que mistura memória e poesia concretista. Eles esperam evoluir e descobrir o tom. Aos poucos, com calma, concentração, foco, despertando conhecimentos sinestésicos da própria vivência, ser transportados a outro lugar intenso. "Filmar não vai captar o suor e a essência", diz-se. E complementa-se "O nosso todo dia é todo dia estar diferente". Concluindo, um filme que pode ser observado como ingênuo, amador, afetado, mas que se mostra nas entrelinhas crescentes ao estágio explícito a antropologia do processo dia-a-dia dos atores envolvidos. O público quando assiste ao espetáculo já concluído e com as pendências emocionais e seus referidos tons.