Crítica: Heli [Por Francisco Carbone]

Por Francisco Carbone

O filme de Amat Escalante abriu a competição do Festival de Cannes, além de abrir também a "porteira" para a minha seleção particular do Festival do Rio desse ano. Engraçado como na Riviera o filme chegou fazendo polêmica mas acabou esquecido, para renascer na noite da premiação com um inesperado prêmio de direção para o jovem mexicano; aqui no Rio o filme chegou com essa pecha negativa, o de vencedor injustiçado. Talvez nunca vejamos o filme com outros olhos, mas o fato é que hoje temos em mãos um filme que jamais mereceu o louro que Cannes lhe ofereceu. Uma pena, pois o filme é um bom projeto, digno, e até bem dirigido. Mas mesmo tendo visto apenas um outro filme da competição, já sei o quão injusta foi a honraria. 

Enfim, o filme. Escalante é jovem, quer mostrar serviço e mostra. Com os poucos recursos que dispõe, dribla as dificuldades da produção com inventividade cênica e soluções criativas, excelente posicionamento e cenas bem decupadas. Mas a verdade é que o roteiro não recebe o mesmo cuidado que a 'mise-en-scène', e até essa vai carecendo do apuro inicial e se repetindo, perdendo o frescor. O elenco não ajuda, ninguém está necessariamente bem a frente das câmeras... lá pelas tantas, é fácil desistir. 

Na tela, a história da menininha que tem um caso com um rapaz mais velho, do seu irmão com que tem um bebê e uma esposa também jovem, e de como todas essas pessoas são arrastadas para um espiral de violência aparentemente normal nas ruas mexicanas graças a um pacote de cocaína (violência que começa espantando e termina aborrecendo; quase sempre protocolar e perigosamente sem vergonha, no limite da forçação de barra) não impressiona pra gente, povo brasileiro. E aos poucos, a direção inspirada se mostra incapaz de segurar um filme que parece mais interessado em impactar de qualquer forma, esquecendo o básico do cinema.