O Voo Invencível do
Sucesso Cinematográfico
Por Fabricio Duque
Assim como a vida, alguns filmes
necessitam de um tempo maior para que possam ser absorvidos e para que haja o
elemento analítico. Com a nova versão do Super-Homem, “O Homem de Aço”, de Zack
Snyder (de "Madrugada dos Mortos", "Watchmen",
"300"), conjugado com a produção de Christopher Nolan
("Amnésia", "Batman - O Cavaleiro das Trevas", "A
Origem"), aconteceu exatamente o mesmo. É um filme que se apresenta com
pesos e medidas; subjetividade radical; “oito ou oitenta”; dividindo até os “adoradores”
de Histórias em Quadrinhos. O Vertentes do Cinema sempre busca “ouvir” os dois
lados, e desta análise, traçar linha condutora.
No seriado Mad Men, episódio
cinco da segunda temporada, pergunta-se, retoricamente, “Por que é tão difícil
apenas gostar das coisas?”. A crítica tornou-se complexa, exigente e individualmente
arrogante. Por que não podemos apenas um filme muito bom? Por que precisa
tentar transformá-lo em excelente? De certa forma, este pensamento corrobora o
estilo americano de ser: a invencibilidade, que se assemelha à figura simbólica
do personagem “Superman”. Mas não foi este caminho que fez esta crítica
acontecer e sim as palavras do escritor Ariano Suassuna, no Teatro Municipal,
no último sábado. O cearense disse, a uma plateia lotada, que “O Super-Homem é
o Deus dos americanos” e “um símbolo religioso de um povo protestante”. Um dos
contras discutidos é o argumento de transformar o Homem de Aço (o ator Henry
Cavill, de "Tristão e Isolda", "Tudo Pode dar Certo",
"Stardust") em Jesus Cristo, de braços abertos na água do mar,
fornecendo a “outra face” e “adotando” os indivíduos terráqueos como “filhos”
estrangeiros (pelo amor incondicional).
Sim, está correto. Mas isto não consegue
validar as duras opiniões que o filme recebeu. Aqui, há o sentimento passional,
que equilibra na linha tênue entre perfeição (a roupa nunca rasgar, o
protagonista nunca se machucar, a força sobre-humana) e a interferência do meio
(a família e os amigos – humanos; a necessidade de mascarar a visibilidade à
sobrevivência; e o respeito paterno – entendimento da frustração alheia,
proteção e condescendência, repetindo até mesmo clichês verborrágicos). O longa-metragem
mostra-se pela exata palavra que define seu personagem principal: altruísmo. Talvez,
a análise deva começar pela trilha sonora. Se nas versões anteriores, a música
de John Williams representava a iconicidade, agora, Hans Zimmer criou polêmica
a não utilizá-la, “mas fiquei três meses adiando a minha escolha”, disse o novo
compositor em entrevista à CNN. O que se percebe então? Solos de violino em
momentos de tragédia e catástrofe iminente.
Há também a música de Eddie Vedder
(do Pearl Jam) fornecendo existencialismo grunge. A narrativa intercala épocas,
monta o quebra-cabeça aos poucos, e digressiona flashes de vivências passadas
(como lidar com a raiva, os poderes, a visão radiológica, inúmeros sons – e barulhos
– ao mesmo tempo, e ainda experimentar os elementos característicos da
infância), por elipses temporais. “O
mundo é muito grande, mãe”, ele diz. “Então, o faça pequeno”, ela rebate. “As
pessoas temem o que não entendem”. O “estrangeiro interplanetário” aprende a
controlar a vingança, a testar seus limites indestrutíveis, e sobre os símbolos
do “S” – “não é um “S”, significa casa, esperança” – recebendo “o melhor dos
dois mundos”. É um filme que busca a emoção não clichê do espectador, inserindo
a combinação da música, da sinestesia sentimental (a cena, que o protagonista
defende a mãe, é uma das mais incríveis experiências sensoriais – ali se vê a
defesa humana da determinação, confiança e da leitura de Platão conjugada à “benção”
recebida no nascimento traduzidas pelas imagens da câmera live action 3D) e as
expressões sutis – e verdadeiras – do ator (utilizando-se da naturalidade “método”
da interpretação). O pós-guerra, em 1938, necessitava instaurar a reforma, a
esperança e a crença de que o país (Estados Unidos) era invencível contra os
adversários. “Superman” surgiu para “Ajudá-los a fazer o impossível”, frase
repetida na nova versão.
“Ato de boa-fé antes, a confiança vem depois”, diz-se
numa igreja, explicitando a comparação com o “filho de Deus”. Outra coisa que o
filme deseja é a desmistificação, ao imprimir realismo dos efeitos especiais,
personificando o voo, por exemplo, e ao indicar a metáfora da fraqueza
extraterrestre, kriptonita, como uma adaptação do novo lar. Concluindo, um
grande elenco, explicações técnicas e físicas, camadas narrativas, inúmeras
referências (inclusive a 11 de setembro) e uma nova trilha sonora, sem se esquecer
do elemento ação (mesmo com “as barrigas” defendidas pelos críticos
desgostosos). Recomendo. Em 2015, haverá a continuação desta versão.