Crítica: 40ª Porta

Por Fabricio Duque

Prólogo: Conhecendo o Azerbaijão


É um país localizado no Cáucaso, na fronteira entre a Europa e a Ásia. Divide fronteiras com o Irã ao sul, com a Armênia a oeste, com a Geórgia a noroeste, com a Rússia a norte e com o mar Cáspio, que banha sua costa oriental. A sua capital é Baku. Considerada uma nação transcontinental, é membro do Conselho da Europa desde 25 de janeiro de 2001.  O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro apresenta a “Mostra de Filmes do Azerbaijão”. São sete obras que retratam a cultura e sociedade do país, enfatizando a diversidade e a percepção criativa da arte cinematográfica azerbaijanesa. 


Crítica: A Experimentação Referencial

“40ª Porta” é a estreia do diretor Elchin Musaoglu em um longa-metragem. E representa uma experimentação de narrativa e de técnica cinematográficas. A geografia do prólogo ajuda a construir o entendimento sobre as características utilizadas no filme. O espectador percebe influências do cinema iraniano, do cinema russo, do cinema da Armênia e se prestarmos atenção, do cinema americano também, principalmente pela teatralidade das ações, gestos, expressões e dos tempos de cena, como exemplo o olhar do filho no cemitério. Mas este início apenas suaviza os acontecimentos que reverberam aos poucos a falta de moralidade dos indivíduos. O filme configura-se como uma odisseia da transformação (comportamental e não da idade física) de um adolescente em adulto devido às consequências da perda. Pode-se assistir como uma fábula da vida real, porque nosso personagem principal “conhece” o verdadeiro lado do ser humano, recebendo picardias e surras, mas também a bondade e solidariedade; aprendendo a vingança, o orgulho e a sobrevivência, sem mitigar a essência da pureza intrínseca. Assim como nos filmes iranianos, o fortalecimento é dado pela desgraça latente e ininterrupta. Talvez, isso seja uma prova diária que a religião impõe no caminho a fim de ser vencida (a última frase explicita o que foi dito aqui). É aceitável que o filme se perda em alguns momentos, inserindo rapidamente personagens que vem e vão, muitas vezes sem explicações maiores e mais aprofundadas. Até porque os prós ganham deliberadamente dos contras. Um dessas vitórias é a atmosfera sinestésica que a narrativa transpassa. Sentimos exatamente a dor e os “perrengues” que o filho necessita transpor. São metáforas existencialistas que transformam o acaso abstrato em possibilidade concreta. O filme foi exibido na 33ª Mostra Internacional de São Paulo de 2009.

Rustam (Hasan Safarov), um menino de 14 anos que vive em uma aldeia com a mãe, na 40ª porta, e recebe uma péssima notícia: seu pai foi morto pela máfia russa. Com a morte do pai, ele se torna o chefe da família. Para sustentar a família, vai para a cidade procurar emprego. Sonhando em comprar um instrumento musical, Rustam se torna amigo de uma lâmpada que pisca na velha ponte e que, como ele, também vive “sozinha” no escuro. O filme leva o título de uma lenda antiga do Azerbaijão, sobre um herói que salva a princesa de um castelo com quarenta portas sem enfrentar o maior perigo na última porta que está trancada.