CRÍTICA: Truque de Mestre

A Metafísica da Manipulação Cinematográfica

Por Fabricio Duque

A tese “Cinema Hollywoodiano E Cultura De Massa”, de Levi Henrique Merenciano, discute que “as produções mobilizam temas e figuras, apropriando-se de símbolos, mitos, clichês, os re-significando de acordo com o tipo de espectador que pretendem agradar”, e pode ser embasada para que possamos analisar o novo filme “Truque de Mestre” do diretor francês Louis Leterrier, conhecido por preferir a linha comercial do entretenimento do que a cinefilia de seu país natal. O cineasta (de “Fúria de Titãs 1”, “O Incrível Hulk” – Com Edward Norton, “Carga Explosiva 1 e 2”) personifica em tela a estrutura fílmica do “cinemão” hollywoodiano, tentando (e querendo realmente) agradar a gregos e troianos, buscando mesclar o gênero autoral (do conteúdo) com os gatilhos comuns do cinema de massa (perseguições, tiros, imagens em videoclipe).  O longa-metragem, de 2013, é traduzido literalmente do “Agora você me vê”, título “imaginado” como não vendável. Se observarmos o currículo do realizador, perceberemos então uma tendência ao cinema da “fácil absorção”. 

“Truque de Mestre” possui narrativa “verborrágica” (tanto na imagem grandiosa, quanto nos diálogos – principalmente quando o “quero-ser-Woody-Allen”, Jesse Eisenberg, desemboca a falar e não para mais) e busca inserir elementos “pseudo” cults,  sabendo que o público “massa” – mais “televisivo” e que busca o cinema como diversão e da máxima “não pensar, apenas relaxar – “regulamenta”, quase de forma mandatória, que não há necessidade de tantas explicações) como o “grande olho”, reviravoltas “mágicas” (e convenhamos: impossíveis até mesmo para profissionais – mágicos e ou ilusionistas – mais qualificados do ramo em questão). É quase obrigatório que a história confunda o espectador, o direcionando ao “truque” da criação cinematográfica, para que assim, atinja o seu objetivo real. Polêmico ao definir “caricaturas-espectadores"? Sim, porém é uma característica enraizada da estrutura de “sucesso” hollywodiana. Trocando em miúdos, é um filme sobre vingança ao estilo Robin Hood, utilizando-se do truque científico na mágica a fim do resultado final, expondo a inteligência e perspicácia exacerbada contra os que “não conseguem ver” além. É inevitável não referenciar aos filmes “O Ilusionista” e “O Grande Truque”. Os Quatro Cavaleiros, interpretados pelos atores Jesse Eisenberg, Isla Fisher, Woody Harrelson e Dave Franco, que são perseguidos pelo agente do FBI Mark Ruffalo, integrando ainda o elenco Morgan Freeman e Michael Caine, treinaram e realizaram truques "reais" de mágica, para evitar o uso maior de efeitos especiais. 

A estratégia do diretor consolidou o tema abordado, “enganando” quem assiste por várias vertentes. Um exemplo disse é o segmento Diretor de Fotografia. Larry Fong (de “Super 8”) cuidou das cenas “mágicas”, enquanto Mitchell Amundsen (de “Transformers”) encarregou-se das sequências de ação. De um lado, o conceito, a arte da construção e a persuasão cinematográfica (o próprio roteiro que “ganha” a atenção do espectador). Do outro lado, a repetição dos elementos de um filme de ação (pretendendo ser uma união de “Onze Homens e Um Segredo” com “Carga Explosiva” – ao dividir perseguições com rápidas imagens de qual caminho o filme está indo). É aí que o “querer pela obra-prima” desmorona, simplesmente, pelo excesso. Há um ditado popular que diz que “quanto maior a ida, maior o retorno”, assim o roteirista Boaz Yakin (de "O Príncipe da Pérsia"), também o criador da ideia original, precisou “rebolar” para conectar (e fechar o ciclo narrativo) a imensa quantidade de informações inseridas, fazendo um trabalho competente até um pouco mais do meio do filme. Mas já sabemos, intrinsecamente, que o equilíbrio contextual e o “grand finale” nem sempre conseguem a sua glória e genialidade. Infelizmente é isso que acontece, necessitando-se de gatilhos comuns e clichês, e acima de tudo buscando a cumplicidade total do espectador, para terminar o filme, mesmo com a música do grupo Phoenix nos créditos finais. Concluindo, a reviravolta da reviravolta final não convence, mas se o leitor-espectador-cinéfilo acha que o filme não deve ser visto, está enganado. Há muito mais prós do que contras. Então, preparem-se para uma digna manipulação cinematográfica, quase metafísica.