ARTIGO: Cinematecando Em Paris

Descobrindo a Paris do Cinema

Por Fabricio Duque

Quando vivenciamos a experiência de se estar em Paris, nós entendemos plena e perfeitamente a homenagem amorosa que o diretor novaiorquino, Woody Allen, fez em “Meia Noite em Paris”, retratando de forma poética, realista, lúdica e fantasiosa a Cidade das Luzes, lugar que a sétima arte foi inventada. É inegável a imponência referencial à arte cinematográfica. Todo lugar que se olha, a mente cinéfila projeta conexões aos cenários dos filmes realizados neste universo mágico, encantador, e que respira, à última potência, a cinefilia, palavra que define a paixão máxima às películas fílmicas, vinda da Novelle Vague, a nova onda, um movimento artístico do cinema francês que se insere no movimento contestatório dos anos sessenta, configurando-se como um gênero que buscava preservar as características intrínsecas dos primórdios do cinema com crítica à sociedade cotidiana. Então, estar em Paris é absorver esta sensação sinestésica. Filmes como “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci, traduzem a real essência fílmica, por exemplo, as cores do teleférico interno da Torre Eiffel, a ponte de Bir-Hakeim, Le Palais des Congrès (a primeira cinemateca francesa – lugar da escada que Eva Green fica “presa”, contracenando com o americano Michael Pitt e o “irmão” francês, Louis Garrel. Como também o “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” e o “Café des Deux Moulins”, da Rue Lepic, número 15; o “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” de Nicole Kidman e Ewan McGregor; o Place de La Concorde, o café Le Select da Boulevard Montparnasse e o apartamento, na Rue Campagne Première, de Jean-Paul Belmondo no primeiro filme do diretor Jean-Luc Godard em “Acossado”; como o Musée du Louvre de “O Código Da Vinci”, de Ron Howard; como o “Hôtel Du Nord” de Marcel Carné, as “viagens” narrativas de “A Origem”, de Christopher Nolan, a passagem subterrânea da Boulevard Berthier do Metro Buttes Chaumont de “Irreversível”, de Gaspar Noé. Ufa! Isto é só o começo. Abrindo parênteses digressionais, ao sair de Cannes, nós temos duas opções para chegar a Paris; por ar ou por terra. Optei pela segunda, saindo de trem, levando cinco horas e trinta minutos de percurso. Na estação Gare de Lyon, não há como deixar de lembrar do filme “Hugo Cabret” (só em versão atual pop), com seus guardas e os apitos indicativos de segurança e avisos. O primeiro impacto que se tem já na fila do taxi, no lado externo, é o do cenário de “O Último Tango em Paris”, de Bernardo Bertollucci. Já no carro, passa-se por filmagens de “O Pequeno Nicolas”, “Até a eternidade”, de Guillaume Canet, “Os Incompreendidos”, primeiro filme de François Truffaut, “Paris”, de Cédric Klapisch, pela ode ao amor de “Paris, eu te amo”. Andando chega-se no Jardin du Luxembourg de “Pierrot Le Fou”, de Godard, nas “atrapalhadas” do ratinho de “Ratatouille”, na ficção de “Superman II”, de Ricard Lester, na comédia de “Um Americano em Paris”, no salão de beleza de “Instituto de Beleza Vênus” - localizado no Ópera, na “cantoria” musical de “Os Guarda-Chuvas do Amor”, de Jacques Demy e da aventura juvenil cantada de “Canções de Amor”, de Christophe Honoré. E tantos que retrataram o Arc de Triomphe, a Avenue des Champs-Élysées (uma das mais famosas e caras do mundo), e outros monumentos históricos, agora turísticos, que se traduzem na figura cinematográfica. O “espectador-leitor-cinéfilo-viajante” tem alguns mecanismos de ajuda a fim de “encontrar” estes lugares. Um deles é o aplicativo do celular “Paris Movies” e o outro é o blog nacional “Viajando com o cinema (blogspot.com)”, que fornece “Uma Volta ao Mundo em busca das mais belas locações Cinematográficas” (sem atualização desde 2010, mas um excelente recurso informativo). Não há só cenários de cinema em Paris. Os museus complementam esta adoração cinéfila, como a Cinémathèque Française (com o Museu do Cinema); e o Cité de la musique (com a exposição Musique et Cinema – Música e Cinema). Estes últimos terão uma matéria especial aqui no Vertentes do Cinema. Concluindo, é impossível não amar a atmosfera parisiense de ser, principalmente para quem respira cinema, como nós, cinéfilos inveterados, passionais e incondicionais.