Crítica: Em Transe


Um Neo Noir do Século XXI

Por Zeca Seabra

Quando Danny Boyle ganhou o Oscar em 2009 por Quem quer ser milionário? (Slumdog Milionaire), o público em geral começou a prestar mais atenção neste diretor inglês responsável pelos cultuados Cova Rasa (Shallow Grave -1994) e Trainspotting (Idem, 1996). Após uma desastrosa passagem por Hollywood com o questionável 127 Horas (127 Hours, 2011), Danny fez as malas e voltou para Inglaterra de onde nunca deveria ter saído. Ele é o tipo de diretor que precisa de muito espaço e liberdade artística para realizar filmes populares, mas de um jeito estiloso e determinante. "Em Transe" (Trance) é um thriller dramático repleto de reviravoltas e que contém todas as características estéticas que distinguem a obra deste realizador. O roteirista John Hodge, fiel colaborador de Boyle, baseou-se no telefilme Trance de 2001 escrito por John Ahearne (que também assina o roteiro) para contar uma história repleta de intrigas, paixões e hipnotismo. Na trama, o leiloeiro de arte Simon (James McAvoy) sem dinheiro para pagar dívidas de jogo, pede emprestado uma enorme quantia à Franck (Vincent Cassel), um gangster criminoso. Para resolver seu problema, Simon aceita participar do roubo de um valioso quadro de Goya, mas ao levar uma pancada na cabeça, se esquece de onde colocou a pintura. Após uma sessão de tortura, Franck decide pedir ajuda a uma hipnotizadora (a exuberante Rosario Dawson) com finalidade de reavivar a memória perdida de Simon, mas o resultado não sai conforme planejado. O atordoamento sugerido pelo diretor é positivo e faz um efeito homeopático no espectador que aos poucos, se deixa seduzir pela teia enigmática que o filme propõe. Sem pistas para acessar as recompensas dramáticas de uma narrativa cheia de detalhes, o público se deixa levar pelo magnetismo de Boyle que preenche a tela com componentes visuais intensos e rebuscados. Nada é o que parece ser, mas mesmo diante destas “charadas” o arco dramático nunca é abandonado e, além disso, Boyle sabe como ninguém encher os olhos de sua audiência. É um filme cinético e atual, onde a música desempenha (como em todos seus filmes) um papel preponderante na estrutura geral. A manipulação da mente, o poder de sugestão e os constantes flashbacks remetem a obras como, Amnésia (idem, 2000) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of a Spotless Mind, 2004), mas as comparações param por aí. Em Transe possui uma atmosfera única, elegantemente noir com uma vibração atraente que reacende a boa forma do diretor. 

ENTREVISTA AO DIRETOR 

O ator francês Vincent Cassel (46) recebeu o Vertentes do Cinema no dia 29 de abril em um hotel no Rio de Janeiro, para bater um papo sobre o lançamento do filme “Em Transe” (Trance, 2012) dirigido Danny Boyle onde interpreta Franck, chefe de uma gangue de criminosos às voltas com o sumiço de um valioso quadro e que decide pedir ajuda a uma especialista em hipnose. O filme conta ainda no elenco com o ator escocês James McAvoy e a atriz norte americana Rosario Dawson e estreia nesta sexta feira (dia 03). Vincent (ou Vicente como gosta de ser chamado no Brasil) foi enfático ao dizer ao Vertentes que sua escolha para um papel depende, em primeiro lugar, do diretor: “Se o diretor for bom e o roteiro ruim, você pode fazer algo interessante, mas o contrário é impossível”. Apesar de nunca ter trabalhado com Danny Boyle, ele prestou atenção na carreira do diretor desde que Trainspotting (1996) foi exibido na França e ter sido comparado com O Ódio (La Haine, 1995) onde atuou sob a direção de Mathieu Kassovitz. Parte do entusiasmo do ator vem de suas experiências com a vida e quando pergunto de onde vem sua inspiração, ele filosofa: “Minha inspiração vem lá de lá fora, olhando as pessoas e me olhando também. Gosto de papéis onde tenho que mentir, tenho que me arrepender e esconder coisas pois a vida é assim e o ser humano não é perfeito.”