Há mais ou menos uma década, o espectador de
cinema mudou seu ideal de filme de ação, principalmente de espionagem. Já não
era mais convincente e crédulo os elementos recorrentes ao exemplo da
franquia do 007 James Bond, em que o vilão era caricato com planos de dominar o
mundo, no geral grandiosos, e o mocinho que nunca se arranhava ou perdia a
pose, sempre trazendo acessórios surpreendentes e passando por situações surreais. Como Hollywood é uma indústria e todas as suas mudanças são proeminentes do público, ou seja, o interesse é financeiro, então ela
decidiu fazer alterações procurando assim atingir melhor a audiência. Com o avanço do cinema e de suas tecnologias, o
uso dos efeitos visuais deixou de ser um recurso narrativo e se tornou o prato
principal, o verdadeiro espetáculo. O gênero de ação contemporâneo pode de
forma generalizada, se dividir em filmes com excesso de efeitos, que se sobrepondo a
história e ao roteiro, procuram um tipo de ação mais crua e realista
ao exemplo da franquia Bourne (inclusive o agente 007 pra se revitalizar foi
influenciado pelo personagem interpretado por Matt Damon) Ao longo da mudança em 2002, um filme em
especial tentou reinventar o conceito de agente chegando a satirizar, mas ao
mesmo tempo, trazendo algo mais real sem tanto glamour e charme com muita
pancada em sequências de ação estilizadas, “Triplo X”, o qual tem diversas
semelhanças com a sequencia de G.I Joe, não se tenta levar a sério. O
primeiro filme dos Joes traz muita caricatura e personagens parecendo sair de
uma peça infantil de péssima qualidade, na verdade o filme todo parecia sem
nexo e em desacordo dos conceitos, trabalhados de forma falha, o
transformaram em um longa-metragem risível no mal sentido. No início de “G.I Joe: A
retaliação” nota-se uma preocupação com o realismo, apresentando sequências que
misturam tiroteio, pancadaria e Le Parkour, muito se assemelhando ao vídeo game, especialmente para nova mídia
em voga, o que logo após o crédito inicial gera uma
brincadeira referencial ao universo "game". Com passar do tempo de duração, perde-se então o realismo e dá-se vez à caricatura do primeiro filme liderada pelos vilões que parecem ter saído
de Filme B de terror como “Mosquito Men”, “Homem cobra” e ainda uma mistura dos exageros do gênero de samurai. Mas nessa continuação em que o roteiro tenta
ser mais sóbrio com nuances sérias, essas e outras questões conseguem se situar
de forma plausível para que o filme passe a ter uma identidade própria estilizada com
elementos ultrapassados. Aqui, os únicos personagens que retornam são
os vilões e Duke, saindo logo de cena e dando lugar a outros personagens mais interessantes e carismáticos. A figura do The Rock é um acerto, conseguindo comandar o filme com sucesso, o ator consegue
certo destaque até em títulos como “O Fada do Dente”. Outra boa escolha no
elenco é Bruce Willis, personagem pouco participativo e mal utilizado. Willis interpreta um sujeito com uma essência de John McClane, de “Duro de Matar: Um bom dia para morrer”. Ele é responsável
pelas melhores tiradas do longa aparentando estar bem a vontade e até se
divertindo com o filme. De resto “G.I Joe 2” tropeça em problemas
comuns do gênero por causa dos diálogos. que são expositivos demais e que tentam resumir
muito do que poderia ser demonstrado em imagem. Diversos buracos no roteiro com
resoluções surreais. Uma sequência em especial, como por exemplo na cena em que personagens lutam em uma
escalada, foi quase toda realizada com computação gráfica, tendo o movimento falso e sem fluir com o corpo muito leve. Mesmo com a seriedade e a ousadia de matar
personagens importantes na trama, que esperamos não serem ressuscitados em um
terceiro. “G.I Joe: A retaliação” não é um filme para ser levado a sério, é uma
diversão rápida que pode ser digerida ou não, pelo descompromisso com realidade
em excesso de surrealismo e elementos exagerados.