Crítica: Oslo, 31 de Agosto

Um dia a Menos na Carreira de 
Um Ator Sem Carisma

Por Fabricio Duque

“Oslo 31 de Agosto” tem sotaque norueguês e tema depressivo-existencialista, abordando o universo da reabilitação das drogas. O diretor Joachim Trier – de Reprise (2006), premiado no Festival de Toronto – opta pela narrativa “submarino”, que mergulha nas angústias, frustrações, transformações e crescimentos do personagem principal, Anders, interpretado por Anders Danielsen. O roteiro busca o direcionamento contemplativo, de dentro para fora, tentando aprisionar o espectador à trama. Porém, há dificuldade na questão anterior por causa do ator que não consegue transpassar segurança, “carisma depressivo” e química entre os coadjuvantes, e não cria o equilíbrio interpretativo, tanto pelos diálogos (forçados e pretensiosos, salvo algumas exceções), quanto pela responsabilidade que recaiu sobre suas costas. O filme é quase um monologo (a câmera está sempre em detalhe). Ele não segurou a pressão. Mas o que incomoda mesmo é a atmosfera. Soa superficial, artificial, necessitando da boa vontade do público para creditar valor ao que está sendo projetado: uma “viagem” lenta, longa e pensativa de um dia pelas ruas de Oslo, que o permite ir ao encontro do que aconteceu sem sua vida, gerando o confronto com suas decepções passadas. Até que ponto uma pessoa, que tenta se livrar do vício das drogas e da depressão pós-tratamento, consegue chegar sem retornar à experimentação do produto gerador do problema? A pergunta é pertinente, a ideia consistente e a possibilidade de se fazer um filme incrível era enorme, só que o cineasta não se desprendeu dos cortes, criando gatilhos comuns, “pseudo independente”, sem a conexão obrigatória entre espectador e história. São elipses, instantes vazios, silêncios constrangedores. Mas nem tudo está perdido. Há cenas magníficas, como por exemplo, as definições temporais, humanizadas e personificadas das ações cotidianas passadas. De tudo isso, de todo contexto, o que mais incomoda mesmo é a atmosfera que não consegue transpassar realidade, muito menos credibilidade. Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2011.