Crítica: Pietá

A Redundância Explicativa do Silêncio

Por Fabricio Duque

Nem sempre um diretor consegue repetir um sucesso cinematográfico. Na filmografia do sul-coreano Kim Ki-Duk, há sempre filmes premiados em festivais por crítica e público, como “Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera” e “Casa Vazia”. Seus roteiros criam a surpresa narrativa. Quando menos se espera, uma reviravolta conclusiva fecha com “chave de ouro” a trama apresentada, experimentando ângulos, tabus sociais e sentimentos dos personagens. Cria-se assim uma sinestesia realista, aprisionando quem assiste. O diretor que provem de uma família de classe operária, e não recebeu formação técnica cinematográfica, começou sua carreira aos 33 anos, sendo hoje um dos mais conhecidos da “novelle vague” do cinema da Coréia do Sul. O seu mais recente filme é “Pietá”, vencedor do Leão de Ouro (prêmio máximo) no Festival de Veneza de Melhor Longa-metragem. Sem sombras de dúvidas, o mais aguardado do Festival do Rio deste ano, com sessões lotadas. Digamos, como curto preâmbulo conclusivo, é um filme que merece ser visto com ressalvas. Bem, vamos a elas. Um dos pontos cruciais foi escolher o ator Lee Jung-jin, como protagonista. Não funciona. A interpretação está forçada e destoante da magnífica Cho Min-soo, que vivencia a “mãe”. É ela que conduz o filme e, ainda mitiga as expressões “blasés” dele (a maquiagem técnica achou que só o transformando em “emo”, de olho pintado e cabelo “jogado” ao lado, que a maestria da atuação seria plena e necessária). Kang-do trabalha cobrando empréstimos devidos a agiotas. Sem família, ele vive um cotidiano brutal e solitário, empregando métodos violentos para extorquir suas vítimas. Tudo muda quando ele é abordado por uma mulher que afirma ser sua mãe. Apesar da rejeição inicial de Kang-do, ela insiste pacientemente e ele aos poucos acaba aceitando-a em sua vida. Ele decide largar seu emprego e mudar de vida. Pouco depois, porém, sua “mãe” é “sequestrada”. A busca fará Kang-do confrontar-se com seu lado perverso e aceitar a acelerada transformação de brutalidade em sentimento. A “mãe” possui um segredo e jogará psicologicamente, mas o que seria vingança acaba tendendo à libertação de uma vida de crimes. O filme é clichê sim, e pergunto: Cadê o silêncio narrativo do cineasta? Neste, Kim explica tudo de forma redundante (imagem e palavras), assim não respeita a inteligência do espectador, gerando um exemplar de cinema americano “preguiçoso”. É dramático, sentimental demais, clichê, óbvio. Até a poesia, cruel, soa repetitiva e mal construída. É uma pena, porém precisamos aceitar que nem sempre a vitória é garantida, mesmo atingindo o topo com premiações em famosos festivais de cinema. Errar é humano, somos humanos. “Pietá” é a escultura do artista Michelangelo, que representa Jesus nos braços da Virgem Maria.