Cineastas, Do Nosso Tempo: Jean-Luc Godard

“Jean-Luc Godard ou o cinema desafiado” integra a mostra Cineastas, do Nosso Tempo, da Caixa Cultural do Rio de Janeiro. O documentário, por Hubert Knapp, faz um retrato do cineasta francês, intercalando reportagem sobre o realizador em questão, entrevistas e trechos do filme. O ano, 1965. O período, preparação a “Pierrot Le Fou”. Jean-Luc Godard “sequestra a realidade”, faz “cinema muito pessoal”, é “pedante”. Não se pode agradar a todos, mas não podemos negar que o estilo deste cineasta francês se apresenta único. Godard enxergava além do tempo presente, definia padrões comportamentais e traçava o futuro da sociedade, além de imprimir discursos políticos, questionadores de uma guerra psicológica e ou física mesmo. Ele trabalhava a ambiguidade. Ninguém era bom e ou mal por completo. Sempre existia o porquê de tal ato. Godard sentia o cinema de forma extrema: sinestésica, filosófica, crítica, maniqueísta, metalinguística e apaixonante. Os planos da câmera buscavam algo além da fantasia da imagem, tanto que “filmava escondido”, fornecendo liberdade e realismo às cenas. Considerado como o “cineasta da colagem”, mitigava o próprio senso comum da montagem. Transcendia e transgredia a técnica cinematográfica da narrativa, “criando” um gênero que não se consegue definir logo de imediato. Ele sempre fugiu dos gatilhos e do politicamente correto. Seus filmes mostram sim um pedantismo e uma arrogância de quem sabe o que quer e de quem sabe exatamente como fazer. É inteligente, perspicaz, questionador e visionário. Quando excede o limite da possibilidade de aceitação social de suas ideias, gera a fama de “realizar filmes para si mesmo”. Outro fator importante é sobre o ser humano. Ao longo dos tempos, o cineasta demonstra claramente uma “aversão”, talvez pelo confronto do individualismo exacerbado de seus próximos, desencadeando um “espelho social” com o próprio estilo de ser. Seguidor de Jean Paul Sartre, Godard incorporou a máxima “o inferno são os outros” e partiu em uma jornada solitária, radical e a mais humana de todas, a de analisar o ser humano pelas ações do próprio ser humano. De tentar extrair algum sentido de um mundo perdido que se encontra nos dias atuais. Se hoje, a crítica do “mundo” virtual tornou-se a crítica fragmentada de pequenas análises subjetivas, então terá explicação o cineasta francês ser bombardeado por exercer esse papel de forma verborrágica e contextual? “A ética é a estética do futuro”, finaliza com suas crenças socialistas.