Crítica: Joshua Tree, 1951: Um retrato de James Dean (A Portrait of James Dean)

O Desejo Imaginário Por Um Mito

Por Fabricio Duque

“Joshua Tree, 1951: um retrato de James Dean” não é um documentário sobre o astro que se tornou símbolo de rebeldia, expressando as angústias de uma geração. O filme apresenta-se como uma ficção, baseada livremente em fragmentos de sua biografia, como a homossexualidade assumida. O diretor californiano Matthew “William” Mishory (de “Delphinium: A Childhood Portrait of Derek Jarman”, um cineasta experimental) optou por realizar um longa-metragem estético demais (absolutamente lindo no quesito fotografia), esquecendo-se do conteúdo narrativo, parte esta que se perde com uma quantidade exacerbada de informações e citações. Matthew vai do poeta francês “Jean-Nicolas” Arthur Rimbaud ao livro “simples” (momento extremado de autoajuda) do “Pequeno Príncipe”. São variadas narrativas dentro de uma só. A sensação que transpassa é uma pretensão cinematográfica. Há elipses temporais, que explanam o andamento da trama, que envolve o início do processo de James “Byron” Dean, os envolvimentos de descoberta sexual, a “venda” do corpo com o intuito de benefícios profissionais. O ator que interpreta Dean (famoso por seriados de televisão, “CSI”, “The Gates” e “Um brilho na escuridão”, de 2006) ora parece Marlon Brando, ora James Dean (apesar de ser mais estético e definido em relação ao “original”). O título faz alusão ao parque nacional dos Estados Unidos localizado no estado da Califórnia. É uma zona desértica (metáfora mais que abordada na história) que inclui partes dos desertos Colorado e Mojave. A parte técnica é, sem dúvidas, a razão para assistir ao filme. É em preto-e-branco, saturada ao brilho de sombras, quase cinza. Por ser digital a exibição, percebemos as imperfeições da imagem, que às vezes ficam com baixa resolução. Em certos momentos, também de forma metafórica, as cores aparecem, meio 16mm, talvez, para fazer referência à cor que o astro coloca na vida dos seus apaixonados, como o seu colega de quarto. Quando digo que o conteúdo foi esquecido, quero dizer que o diretor apelou demais ao corpo, desviando a atenção ao público gay. Sim, é um filme completamente gay. Insinuações desde o começo do filme. Este não é problema, e sim a forma como a transposição à tela foi feita. No final dos créditos, Matthew agradece ao pai por ele ter apresentado James Dean, como pesquisa informativa. Vale à pena assistir? Sim, principalmente pela fotografia, mesmo assim, o contexto pretensioso prevalece, salvo instantes pincelados no filme.