Crítica: Gonzaga - De Pai Pra Filho

Gonzaga, Uma Homenagem 
ao Povo

Por Fabricio Duque

O filme venceu nas categorias de Melhor Filme de Ficção; Melhor Diretor; Melhor Ator (Júlio Andrade); e Melhor Ator Coadjuvante (João Miguel) no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2013.

O cineasta Breno Silveira vem definindo sua carreira ao buscar o tema popular e podemos entender seus filmes por suas próprias palavras. “Há uma linha muito tênue entre o piegas, o clichê, e o que tem verdade e sentimento. É nesta corda bamba que eu gosto de andar. Sou assumidamente emotivo, apaixonado pelas coisas brasileiras e por pessoas simples”, diz fornecendo a definição exata da forma como conduz suas obras. O objetivo de Breno é comover o público, despertando no espectador o “sentimental demais”. A opção narrativa buscada pelo diretor é desafiadora, porque há a necessidade de dosar aquela “linha tênue”. É quase impossível o equilíbrio do inicio ao fim, criando camadas narrativas. Em sua filmografia (“Dois Filhos de Francisco”, sobre Zezé di Camargo e Luciano; “Era Uma vez”, sobre Shakespeare na favela; “À Beira do Caminho”, uma homenagem a Roberto Carlos), podemos encontrar vários filmes dentro de um mesmo filme, talvez pela “obrigação” que Breno cria de agradar diferenciados públicos, apresentando o mais recente trabalho, “Gonzaga – De Pai para Filho”, que aborda a relação paterna (conturbada) do Rei do Baião Luiz Gonzaga e seu filho, Gonzaguinha. 

O roteiro cria o épico novelesco ao traçar nascimento à morte dos ícones musicais “protagonizados” aqui, e que são interpretados na infância, adolescência, pós-adolescência e “velhice”. Como são vários atores interpretando o mesmo personagem, requer agora, uma análise interpretativa, que gera os altos e baixos. A excelente parte fica por conta do elenco, destaques aos “Gonzaguinhas” Julio Andrade (na fase final - fantástico), Alison Santos (fase mirim - incrível), aos “Gonzagas”, Land Vieira (fase adolescente – perfeito, principalmente na cena de surra pela sua mãe), Adélio Lima (fase final) e aos coadjuvantes, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro, Olivia Araújo, Zezé Motta, João Miguel. O filme, uma homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), mostra uma queda ao prolongar a emoção, “movimentando” demais a linha tênue, tendendo ao sentimentalismo, principalmente pela escolha do ator intermediário que viveu o pai Gonzaga, Chambinho do Acordeon, que se entrega, mas não consegue segurar a responsabilidade, mesmo com a semelhança com o “personagem” real e o carisma do sorriso, tanto que nas cenas mais dramáticas, a câmera não foca a sua expressão de raiva ou choro. 

É só um comentário dentro de um contexto muito bem trabalhado, especialmente pela parte técnica (fotografia de Adrian Teijido, de “O Palhaço”) e pelas imagens reais que mostram a excelência da busca pela reprodução perfeita. “Cada vez que me aprofundava nesta trajetória, descobria que Gonzagão é muito maior do que eu tinha imaginado. A quantidade de histórias sobre ele não caberia em quatro ou cinco filmes. Luiz Gonzaga era um Chaplin, um gênio. Desenhava as próprias roupas, inventava passos de dança, tinha uma noção absurda de ritmo. Nos anos 50, já entendia o que viria a ser o show business. Enquanto as apresentações se limitavam a Rio de Janeiro e São Paulo, Gonzaga criou as turnês nacionais", finaliza o diretor Breno Silveira sobre sua produção de 12 milhões de reais e sete anos até a tela grande. Concluindo, um filme que vale à pena assistir.