Crítica: Entre Vales

Entre os Vales do Sucesso 

Por Fabricio Duque 

“Entre Vales” é o mais recente filme do diretor Philippe Barcinski (de “Não Por Acaso” e do curta “Palíndromos”), e aborda o lado existencial da perda de um filho pela narrativa não linear, intercalando o “vale” são e o “vale” pós-trauma. O interessante é que não há identificação temporal, então o espectador precisa construir a história passo a passo com os fragmentos apresentados. O cineasta, que também, divide o roteiro com Fabiana Werneck Barcinski, escolheu a dedo o protagonista e “despejou” toda responsabilidade e pressão no ator Ângelo Antônio, que por sua vez entregou-se de tal modo, que é impossível não acha-lo fantástico, arrebatando a atenção do espectador, tanto na fase promissora, quanto no estágio inicial de loucura – e fuga da realidade. A história é simples, a duração curta, planos, ora contemplativos, ora silenciosos, ora catárticos, fotografia estonteante do mestre Walter Carvalho, participação mais que especial do ator uruguaio Daniel Hendler, que cada vez está mais brasileiro. E para completar o pacote, o diretor usou o elemento figurativo do lixo a fim de concatenar as causas psicológicas por detalhes cotidianos. Vicente (Ângelo Antônio) é economista, pai de Caio e marido de Marina, uma dedicada dentista. Ele tem uma vida comum em casa e no trabalho até que uma perda seguida de outra o levam a uma jornada errática de desapego. Uma história que aborda a fragilidade do homem e a sua capacidade de se recriar. A metáfora filosófica é sobre o recomeço de vida, partindo-se do principio que se perder o que mais se ama, tudo ao redor é modificado, zerando quereres e futuros. Philippe aceitou o desafio do “oito ou oitenta”, do ame ou odeie, e recebeu como resposta um resultado satisfatório, que, num primeiro momento, referencia outros filmes como “Lixo Extraordinário”, “Ilha das Flores” e “Trashed”, com Jeremy Irons, logicamente por causa da temática, mas que em poucos minutos do início, há sustentação própria e uma infinita vontade por parte de que assiste pela redenção de um pai que busca no desespero andarilho e sem rumo curar uma culpa que foi criada pelo autopercepção de que faltou na função de protetor. “Assista de coração aberto!”, palavras do próprio diretor. Vale à pena!, minhas palavras.