Crítica: Cor da Pele: Mel

O Mel Dicotômico da Adoção 

 Por Fabricio Duque

Talvez o filme “Cor de Pele: Mel” não tenha sido muito feliz pela escolha do título. Mas só por isso. Porque nos outros aspectos cinematográficos, este longa-metragem que mescla documentário, ficção e animação, apresenta-se como uma “pequena” obra de arte. A palavra em aspas não possui direcionamento pejorativo, muito pelo contrário, poderia ser maior na duração de apenas 74 minutos. Aos cinco anos, Jung foi achado nas ruas de Seul por um policial. Encaminhado para adoção, ele foi morar com uma família na Bélgica, onde cresceu e se tornou cartunista, sem jamais retornar ao seu país de origem. Aos 42 anos, ele decide revisitar Seul. O diretor Laurent Boileau cria uma jornada autobiográfica na qual relembra sua infância, sua história e aborda antigos fantasmas que o assombram até hoje: seus pais biológicos e sua condição de estrangeiro em uma família e um país que não o pertencem. É um filme de camadas narrativas, trabalhando a construção da história, dosando, de forma equilibrada, a emoção (sem o clichê), o tema da adoção (suavizado pela animação), o existencialismo (gerado pelas consequências reais ficcionais e internas do “personagem”) e imagens de arquivo (embasando o argumento documental apresentado). O espectador poderá vivenciar, sinestesicamente, altos e baixos, risos e choros, felicidades e tristezas, decepções e sucessos, tudo ao mesmo tempo. Ao abordar a própria história, o cineasta realiza uma análise detalhada dos sentimentos que experimentamos em inúmeros casos, humanizando cada um deles, os tornando palpáveis e terapêuticos. O único contra é quando o filme tem seu final. Só isso. Concluindo, um longa-metragem que vale à pena ser assistido. Corra ao cinema!