A Rebelião


Ficha Técnica

Direção: Mathieu Kassovitz
Roteiro: Pierre Geller
Elenco: Mathieu Kassovitz, Iabe Lapacas, Malik Zidi, Alexandre Steiger, Daniel Martin, Philippe Torreton, Sylvie Testud, Steeve Une, Philippe de Jacquelin Dulphé, Patrick Fierry
Fotografia: Marc Koninckx
Trilha Sonora: Klaus Badelt
Produção: Mathieu Kassovitz, Christophe Rossignon
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Cofinova 7, Nord-Ouest Productions, MNP Entreprise
Duração: 136 minutos
País: França
Ano: 2011

 


A Ordem e a Moral de uma Guerra

Assim como sua parceira de trabalho, Juliette Binoche, em “A Vida de Outra Mulher”, Mathieu Kassovitz apresenta-se como um “workaholic”, completamente viciado na profissão que escolheu. Sempre buscando a novidade, tanto narrativa, quando técnica, podemos dizer que o ator, e diretor, francês é um experimentador crônico. Ele sempre será o “objeto desejado” de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, filme que o consagrou mundialmente, dentro e ou fora do universo cinéfilo, é fato, igual Marion Cotillard por “Piaf”. Mathieu está de volta à direção de um longa-metragem. Após se aventurar por “O ódio”, “Rios Vermelhos”, “Na Companhia do medo”, entre outros, traz agora “A Rebelião” aos espectadores, palavra que pode, neste caso, ser usada com “s” ou “x”, esta última por causa dos apreciadores da filmografia do diretor em questão aqui. É compreensível que o tempo se faça cúmplice neste meio cinematográfico. Há percepções e experimentações (tentativas e erros) que necessitam de um hiato maior. Mathieu “fez o trabalho de casa” direitinho. O seu mais recente filme é extremamente interessante, principalmente pelos ângulos de câmera, que se mostram como existenciais e observadores. O roteiro de Pierre Geller (que a maioria dos trabalhos foi para televisão), logicamente, com interferências precisas do diretor, busca a interatividade com o público ao tornar a câmera, personagem, “escalando” quem assiste ao envolvimento sensorial e sinestésico, atravessando, lado a lado, dos participantes da trama. A narrativa não se esquece das características essenciais do cinema francês, pelo contrário, as consolida e inserindo novas possibilidades visuais, como a tomada aérea e ou a entrada na floresta, retratando, assim, o lugar ambientado.


Abril de 1988, Ilha de Ouvea, Nova Caledônia. 30 policiais são mantidos reféns por um grupo de pró-independência do país. 300 soldados são enviados da França para restaurar a ordem e dois homens são colocados face a face: Philippe Legorjus (Mathieu Kassovitz), capitão do GIGN, e Dianou Alphonse (Iabe Lapacas), chefe dos seqüestradores.

O diretor também participa como protagonista e “pensou em vários nomes para o papel principal, mas no final acabou considerando que ele mesmo deveria interpretar Philippe Legorjus” (informação essa gerada pelo site Adoro Cinema). É um filme sobre estratégias de guerra, baseando-se no diálogo como forma correta de negociação. A história gera momentos tensionados e surpresa à próxima ação, obrigando, no melhor dos sentidos, o espectador a vivenciar, consequência ao resultado, cena a cena. Há crítica acirrada à política de um país, partindo-se da premissa observada dos líderes governamentais, que é a melhor estratégia para o “estar bem” diante da mídia e de um povo “alienado”. Mostra-se que em muitos casos, guerras poderiam ser evitadas, incluindo mortes e feridas, pelas ordens de uma hierarquia bélica que só “olha” ao próprio benefício. “Um terrorista desumaniza o adversário, tornando a violência possível na negociação”, diz-se. “Quero evitar isso”, o protagonista, ético e condizente com a perfeição de seu trabalho, “tenta” realizar, mas é impedido pela mesma hierarquia que já foi citada antes, e como contraste, abusivamente antagônico, a política atrapalha o “decente” andamento de uma complicada situação.

É um filme necessário aos dias atuais, tempos de guerra e eleições, porque em um confronto, os dois lados possuem ideias e utopias, e nada melhor que a palavra, o diálogo, para que o resultado seja satisfatório a ambos. Os “terroristas” lutam apenas pela independência de seu lugarejo. É uma luta justa e “com vítimas”, como os próprios “utópicos” dizem. “Não desista, sempre tem uma solução”, finaliza-se, referenciando o Hotel Sofitel como a “residência” dos jornalistas. A diretora Sylvie Testud (de “A Vida de Outra Mulher”), que escalou Mathieu Kassovitz como ator, agora participa como atriz em “A Rebelião”. É assim o cinema. Uma troca de maestrias. Vale à pena assistir, apesar de longo e repetitivo em algumas cenas. Recomendo.

O exército da França recusou o pedido para apoiar a logística da produção. Muitos dos helicópteros que aparecem em cena foram feitos de madeira. Os habitantes de Nova Caledônia ainda não puderam assistir a este filme, que aborda parte muito importante da história do país. O único distribuidor local anunciou a desistência de exibir o longa. Rodado em 2010, na Polinésia Francesa e na França.



O Diretor

Mathieu Kassovitz (Paris, 3 de agosto de 1967) é um ator, cenarista e diretor de cinema francês. Dentre suas atuações merecem destaque as realizadas nos filmes Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet, no qual atua como Nino Quincampoix, e Munich (2005), de Steven Spielberg, no qual atua como Robert.