Paraísos Artificiais


Ficha Técnica

Direção: Marcos Prado
Roteiro: Cristiano Gualda, Pablo Padilla, Marcos Prado
Elenco: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro, Divana Brandão, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Roney Villela, Emilio Orciollo Netto, Mathias Gottfried, Yan Cassali
Fotografia: Lula Carvalho
Trilha Sonora: Rodrigo Coelho, Gustavo M M
Produção: José Padilha, Marcos Prado
Distribuidora: NOSSA
Estúdio: Zazen Produções
Classificação: 16 anos
Duração: 96 minutos
País: Brasil
Ano: 2012
 



A Praia Sintética de Marcos Prado

Depois de produzir sucessos, como “Tropa de Elite 1 e 2” e “Ônibus 174”, e de realizar dois documentários, “Estamira” (2004), Marcos Prado estreia na direção de um longa-metragem de ficção, assumindo também a função de roteirista, que divide com Cristiano Gualda e com Pablo Padilha – só o argumento são cinco “criadores”. É um filme sobre o universo das drogas sintéticas, que proporcionam viagens transcendentais de “busca ao divino” e de encontrar o verdadeiro eu interior. “Mas cuidado, autoconhecimento demais faz vomitar”, alerta-se. A trama apresenta-se de forma não linear, intercalando períodos temporais pelo artifício da elipse não explicativa. Os elementos narrativos aparecem aos poucos. São digressões a dois passados que se completam e geram o presente indicativo. É inevitável a referencia comparativa com os filmes “A Praia”, de Danny Boyle, com Leonardo DiCaprio, e a mais explicita, “A Festa Rave” (Groove), de Greg Harrison. Talvez o que o roteiro tenha feito, trocando em miúdos, é a união dos dois, inserindo ações cotidianas corriqueiras, a fim de embasar a história apresentada, que também mostra os efeitos alucinógenos quando se consome uma droga.

É uma entrega perdida e livre. Desejada e feliz, mas com momentos de intensa depressão. “Você é o que você sente” e “As drogas apenas potencializam o que já existe, colocando para fora os demônios interiores”, frases como essa soam didáticas sobre o universo do “tabu” abordado. Pode ser contraditório, mas o real objetivo do diretor de realizar este filme foi o lado pessoal. Ele tem um filho com dezoito anos. Foram necessários quatro anos de pesquisas para que o filme estivesse do seu agrado. A estética fotográfica ficou a cargo de Lula Carvalho (filho e aprendiz do mestre Walter Carvalho), que conseguiu transpassar à tela toda energia emanada de uma festa rave. Só quem foi sabe que o arrepio é constante, por causa do material bruto, a música de gênero Trance, que pode ser definida como uma viagem existencial e motivadora. É impossível ficar imune. O coração bate mais rápido, a felicidade contagiante e incondicional do outro estimula a entrega na pista de dança, pulando e acelerando o estágio de permanência. Outro direcionamento narrativo é a opção por construir uma história pelas escolhas de cada um dos personagens.

Uma ação gera outra e modifica todo resto. Como é apresentado de forma não clássica, talvez as reviravoltas sejam resolvidas rápidas demais e ou com falta de conteúdo. Não digo que são ruins, mas sim precisariam de um tempo maior para que fossem trabalhadas. A escolha do elenco também é um acerto, e o espectador deve abstrair alguns diálogos “superficiais”, com pressa de terminar, gerando amadorismos; e aceitar a ideia da liberdade poética (do cinema) do encontro casual. Concluindo, é um filme que prende o espectador, despertando o desejo de ser livre, a busca pela juventude, a entrega sem limitações sexuais. São descobertas que acontecem quando a mente é expandida. Vale a pena assistir. Recomendo.

Erika (Nathalia Dill) é uma DJ de relativo sucesso e amiga “namorada” de Lara (Lívia de Bueno). Juntas, durante um festival onde Erika trabalhava, elas conheceram Nando (Luca Bianchi) e, juntos, vivem um momento intenso. Entretanto, logo em seguida o trio se separa. Anos depois Erika e Nando se reencontram em Amsterdã, onde se apaixonam. Só que apenas Erika se lembra do verdadeiro motivo pelo qual eles se afastaram pouco após se conhecerem, anos antes.





O Diretor

Marcos Prado é carioca, nascido em 1961, é fotógrafo, produtor e diretor. Produziu os documentários Os carvoeiros (1999), inspirado em seu livro homônimo e dirigido por Nigel Noble, e Ônibus 174 (2002), de José Padilha e Felipe Lacerda. Dirigiu programas de televisão para a Globosat, para a National Geographic Television e para a NBC. Teve trabalhos de fotografia publicados em vários jornais e revista do país, entre os quais Veja, Trip, Folha de São Paulo e O Globo. Sua estreia na direção de cinema foi com o longa Estamira (2004), escolhido melhor documentário no Festival do Rio, na Mostra de São Paulo, no Festival Internacional de Karlovy Vary e no Festival Internacional de Documentários de Marselha, além de prêmios em Belém, Miami e Nuremberg. Em 1997 fundou, com o cineasta José Padilha, a Zazen Produções, e juntos passaram a realizar seus próprios projetos. Produziu Tropa de elite, de José Padilha, filme que conquistou o primeiro lugar no ranking de filmes brasileiros em 2007. O filme ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, começando sua carreira internacional com grande destaque, e foi ainda o grande vencedor no Grande Prêmio Vivo de Cinema Brasileiro, em abril de 2008, levando oito prêmios, incluindo o de melhor direção para José Padilha e o de melhor filme pelo júri popular. Em 2010, foi lançado Tropa de elite 2, mais um longa da Zazen Produções, com produção de Marcos Prado. Seu próximo projeto é o longa Paraísos artificiais.