Crítica: Os Intocáveis


Ficha Técnica

Direção: Olivier Nakache, Eric Toledano
Roteiro: Olivier Nakache, Eric Toledano
Elenco: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot, Clotilde Mollet, Alba Gaïa Kraghede Bellugi, Cyrril Mendy, Christian Ameri
Fotografia: Mathieu Vadepied
Trilha Sonora: Ludovico Einaudi
Produção: Nicolas Duval-Adassovsky, Laurent Zeitoun, Yann Zenou
Distribuidora: Califórnia Filmes
Estúdio: Chaocorp / Gaumont / TF1 Films Production / Quad Productions
Duração: 112 minutos
País: França
Ano: 2011





Os Intocáveis

O quarto longa-metragem dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache vem se tornando um sucesso, não só na França. É um filme sobre observações da condição humana, tanto comportamentais, quanto existenciais, utilizando-se a sociedade como o fio condutor desta análise, que pode ser desafiadora, de humor negro, sentimental, sem ser clichê, e extremamente divertida, dosando, na medida certa, os elementos abordados. O caminho escolhido é visto como polêmico, porque tenta (e consegue) retirar os tabus e hipocrisias que todos nós vivemos, e também como contraste, pois mitiga o preconceito com uma “dose cavalar” do próprio veneno. A quem assiste, percebe o ritmo de construção com doses homeopáticas. Não é de uma hora para outra, que há mudança do personagem e ou absorção de percepção. Isto acontece gradativamente, à medida que se troca experiências e vivências com outro “ser discriminado”. Se formos resumir a trama, poderíamos dizer que é um magnata rico redescobrindo um sentido na vida e um marginalizado socialmente que aprende com o luxo material a aumentar a visão humanizada sobre as pessoas (sentimento que já o possuía).

Trocando em miúdos, os dois questionam ética, moralidade, condição social, nacionalidade, raça, cor, cultura musical e da arte pintada. Há crítica aos mais variados setores da sociedade, trabalhados com sutileza, inteligência, perspicácia e altruísmo, respeitando o espectador como ser pensante. Em hipótese nenhuma, o ritmo do roteiro é perdido. Tudo é transpassado de forma equilibrada, dentro de um filme sinestésico. A própria condução da história manipula emoções, completamente magistral. É inevitável o riso e o choro, sem momentos dramáticos e ou apelativos. É um filme que mostra a verdadeira essência, apegando-se, única e exclusivamente, ao material bruto do ser humano. Base, naturalidade e existência intrínseca.

Após um acidente de paraquedas, Philippe, um rico aristocrata, contrata Driss, jovem recém-saído da prisão, para ser seu acompanhante. Mas Driss é a pessoa menos apropriada para o trabalho. Juntos, eles irão misturar Vivaldi e a banda Earth, Wind and Fire, dicção elegante e jazz de rua, ternos e calças de moletom... Dois mundos vão colidir e chegar a um acordo para que nasça uma amizade tão louca, cômica e forte quanto inesperada, uma relação única que irá criar faíscas e torná-los… Intocáveis.

Dois mundos que são incrivelmente interpretados, e “bagunçados”, por François Cluzet (de “Até a Eternidade”) e Omar Sy (venceu o César de melhor ator, tornando-se assim o primeiro ator negro a receber o prêmio). Há extrema sintonia entre eles (expondo ao máximo o propósito da profissão de ator: a busca pela perfeição – estão excelentes, contidos e sentimentais, ao mesmo tempo) e entre os outros coadjuvantes. Um fenômeno absoluto de bilheteria na França em 2011, sendo exibido na abertura do Festival Varilux de Cinema Francês 2012. Talvez possamos explicar pelo grau de empatia. O filme agrada a gregos e troianos. É lógico que críticas negativas existirão. Já se diz que o longa é racista, impróprio, politicamente incorreto. Mas esqueça dos contras e preste atenção aos prós. Obviamente, irão complementar, que não há filmes cem por cento perfeitos, concordo, porém, este quase beira a obra-prima, que talvez por ser comédia e divertido demais, crie um obstáculo. Concluindo, um filme fantástico, que deve ser propagandeado inclusive aos inimigos. Vale muito, muito mesmo à pena assistir! Recomendo.

O filme entrará em circuito nacional com 110 cópias. Em Portugal, recebeu o título de “Amigos Improváveis”. Dois livros estão sendo lançados junto com a chegada do filme aos cinemas, são eles O SEGUNDO SUSPIRO – livro que baseou o filme, escrito pelo próprio Phillippe Pozzo di Borgo – (Ed. Intrínseca) e VOCÊ MUDOU A MINHA VIDA (Ed. Record) – versão da história do enfermeiro argelino Abdel Sellou sobre as aventuras que emocionaram o público na França e que agora chega aos cinemas brasileiros. Philippe Pozzo di Borgo assina o prefácio. O dinheiro arrecadado com a venda dos direitos de autor da adaptação do livro ao cinema, cerca de US$ 650 mil, foi doado a uma associação de ajuda a deficientes físicos.



Os Diretores

Eric Toledano e Olivier Nakache se conheceram no início dos anos noventa. Em 1995, dirigiram seu primeiro curta-metragem juntos, Le jour et la nuit, com Zinedine Soualem e Julie Mauduech. Mas foi outro curta-metragem, Les Petits souliers, que fez a dupla ser notada pela primeira vez, acumulando uma dúzia de prêmios diferentes. Em 2003, eles fizeram sua primeira longa juntos, Apenas Bons Amigos. Este projeto foi marcado pelo encontro com Gérard Depardieu e o início de suas colaborações com Jean-Paul Rouve. Este último se reuniu com os diretores novamente para Nos jours heureux, que foi sucesso de público e crítica em seu lançamento, em 2006. A dupla fez então Tellement proches. A ideia para o quarto filme, Intocáveis, nasceu em 2003 após verem um documentário sobre a vida de Philippe Pozzo di Borgo. Em 2011, adaptaram a história para o cinema. O filme totalizou 20 milhões de entradas na França, e Omar Sy ganhou o César de Melhor Ator em 2011.

Trilha Sonora do Filme

Ludovico Einaudi - "Fly" (3:20)
Earth, Wind & Fire - "September" (3:33)
Omar Sy, François Cluzet e Audrey Fleurot - "Des références..." (1:08)
Ludovico Einaudi - "Writing Poems" (4:09)
George Benson - "The Ghetto" (4:57)
Omar Sy & François Cluzet - "L'arbre qui chante" (1:01)
Terry Callier - "You're Goin' Miss Your Candyman" (7:18)
François Cluzet & Omar Sy - "Blind Test" (2:21)
Earth, Wind & Fire e The Emotions - "Boogie Wonderland" (4:45)
Ludovico Einaudi - "L'origine nascosta" (3:12)
Nina Simone - "Feeling Good" (2:53)
Ludovico Einaudi - "Cache-cache" (3:51)
Angelicum De Milan - "Vivaldi: Concerto pour 2 violons & Orchestra" (3:21)
Ludovico Einaudi - "Una mattina" (6:41)
Vib Gyor - "Red Light" (4:29)