Elenco: Vozes originais de Mathieu Amalric, Hafsia Herzi, Karina Testa, François Damiens, Mohamed Fellag, Daniel Cohen, Eric Elmosnino, Joann Sfar, Maurice Bénichou, Jean-Pierre Kalfon, François Morel
Fotografia: Jérôme Brézillon
Trilha Sonora: Olivier Daviaud
Produção: Antoine Delesvaux, Clement Oubrerie, Joann Sfar
Distribuidora: Imovision
Classificação: 12 anos
Duração: 100 minutos
País: França, Áustria
Ano: 2011
A Voz do Questionamento Pluralista
Por incrível que pareça, há quem pense que toda animação cinematográfica é destinada ao público infantil. Não, não é. Este gênero comporta-se como mais uma opção de se construir uma história. E ainda se encontram inúmeras vertentes a técnica mencionada. Dependendo da velocidade dos fotogramas, a imersão do espectador pode ser intensificada ou mitigada completamente, gerando uma ilusão de movimento contínuo, por causa da persistência da visão. Geralmente, na atualidade, a tendência é buscar roteiros inteligentes, sarcásticos, de absorção dúbia, utilizando a animação como forma de suavizar temas polêmicos, políticos, religiosos, sádicos e proibitivos dentro de uma imagem realista. “O Gato do Rabino” é uma delas. Baseado livremente na própria história em quadrinho homônima de Joann Sfar, que também assume a função de diretor e produtor. O cineasta, de “Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres”, já mostrava no seu filme anterior o desejo pelos elementos animados, unindo ficção e realismo fantástico.
Na Argélia da década de 1920, o rabino Sfar (Maurice Bénichou, voz) vive com sua filha Zlabya (Hafsia Herzi, voz), além de um papagaio tagarela e um gato sem nome (François Morel, voz), que devora o papagaio e começa a falar sem parar. Para não ficar longe de sua amada dona, o gato decide se converter ao judaísmo, e passa a compreender melhor os fundamentos da religião. Ao mesmo tempo, a chegada inesperada de um judeu russo à cidade obriga o Rabino e seu amigo, um líder islâmico (Fellag, voz), a fazerem uma cruzada pela África, local marcado pelas mais diversas crenças religiosas, raças e línguas. Vários novos amigos - e inimigos - cruzam o caminho desta caravana.
É um filme aventura que observa, analisando, as ações comportamentais dos participantes de uma sociedade globalizada, incluindo animais. A metáfora é o elemento que conduz a trama. Quando se dá voz a alguém, no caso um gato, que já possui, intrinsecamente, o instinto da sobrevivência, não importando ética, moral e o politicamente correto, espera-se o latente questionamento. O gato convive com a hipocrisia, o medo dos outros, este último gerando a defesa (que pode tomar variadas formas, como a violência, agressividade natural, a desconfiança). O gato rouba e mente, mas se apresenta como o mais sensato e verdadeiro de todos, e questiona os ensinamentos religiosos com embates referenciando a ciência. Vivencia as suas vontades de acordo com as necessidades e possibilidades.
O longa-metragem é uma aula sobre o comportamento humano, antropologicamente falando. Cruza-se a África e vai a Jerusalém. Ser o que cada um é respeitar a essência do ser. Mudar o ser é transformar esta essência em agonia, despertando angustias existenciais e demônios escondidos na alma. A busca nem sempre leva ao lugar desejado. Até porque há pessoas, com subjetividades, idiossincrasias e crenças das mais diversas. “O inferno são os outros”, já dizia o filósofo Jean-Paul Sartre, também francês. A pluralidade de religiões é discutida de maneira verborrágica e transgressora, como a cena de sexo entre os felinos. Não, não é um filme para crianças, mas elas podem assistir sim, e devem. Assim, fornece complexidade aos “pequenos”. O filme em certos momentos perde ritmo, mas nada que atrapalhe o contexto. Vale à pena ser visto, principalmente pelo o que se diz, definindo e limitando personalidades, para que logo depois crie o questionamento do questionamento. Recomendo. A animação venceu o César (o Oscar francês) da categoria em 2011, além do Grande Prêmio do Festival de Annecy.
Os Diretores
Foto de Benoit Tessier / Reuters/Reutersqui
Joann Sfar (direita) nasceu em Nice, França, em 1971. Ele trabalhou como um artista em mais de 150 romances gráficos, ganhando vários prêmios ao longo do caminho. Seu primeiro filme, Gainsbourg, foi lançado nos Estados Unidos em 2011. Antoine Delesvaux (esquerda) é um veterano da indústria de animação que fundou tanto Estação La Animação e estúdios de produção Autochenille na França. Seu co-dirigido filme animiated, Gato do Rabino, exibido no New Directors / New Films em 2012.