Girimunho (por Cristiano Ayres)

Um retrato poético do sertão mineiro

Por Cristiano Aires

O longa-metragem “Girimunho”, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina, mostra a vida dos moradores da pacata cidade de São Romão, no interior de Minas Gerais. Logo no início do filme, tem-se a impressão de que a narrativa aborda questões típicas de um vilarejo, como o folclore local, por exemplo, através de uma canção que faz o espectador lembrar um típico repente. No entanto, a história se volta ao cotidiano de duas senhoras: Bastú e Maria. E este olhar direcionado à vida das simpáticas velhinhas é o diferencial do filme. A história de imediato arrebata o espectador, pois os diretores fizeram a feliz escolha de mostrar um interior repleto de poesia, lirismo, beleza e encantamento que foge ao velho clichê do sertão árido, cinzento e triste, no qual alguns filmes são retratados. Bastú passa por alguns desentendimentos com o marido, Feliciano, que implica com o fato de a esposa gostar das músicas tocadas por lá. Repentinamente, Feliciano morre e Bastú se resigna com a partida do marido, dizendo ao neto da maneira mais plácida que se pode imaginar que ele “dormiu e morreu”. Ela dá sequência à vida, resignada com a partida do marido e na companhia dos netos. Em momento algum o filme percorre o caminho da tristeza, do drama ou explora a fragilidade de pessoas que vivem em condições tão modestas. Pelo contrário. É um filme que preza a felicidade, a liberdade e brinda a vida a cada cena. As danças folclóricas, a bela fotografia, além dos diálogos sublimes, complementam a leveza proposta pelo filme. Uma das cenas marcantes é quando Bastú arruma a mala com as roupas do marido falecido e chega a levá-las até à rodoviária para doá-las, mas as leva para um rio e, então, joga sua indumentária como se fosse uma homenagem. Cena linda e plasticamente perfeita. “A gente não é velho nem novo, a gente vive”, uma das frases ditas por ela, merece uma reflexão acerca do quanto se pode ser feliz, livre e aproveitar o melhor que a vida tem a oferecer, seja num vilarejo sertanejo ou em um castelo europeu. Impossível não sair do cinema inebriado com a poética deste belo sertão mineiro.

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