A Invenção de Hugo Cabret


Ficha Técnica

Diretor: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Elenco: Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ray Winstone, Emily Mortimer, Christopher Lee, Helen McCrory, Michael Stuhlbarg, Frances de la Tour
Fotografia: Robert Richardson
Trilha Sonora: Howard Shore
Produção: Johnny Depp, Tim Headington, Graham King, Martin Scorsese
Distribuidora: Paramount Pictures
Classificação: Livre
Duração: 126 minutos
País: EUA
Ano: 2011

 



O Inquestionável Propósito de Martin

Tenho certeza que o propósito do diretor Matin Scorsese é consertar pessoas pelo cinema que realiza. “A invenção de Hugo Cabret” só corrobora a magia que imprime em seus filmes. Neste, especificamente, atinge a áurea cinematográfica, porque se utiliza da metalinguagem para dialogar com espectadores, principalmente os apaixonados pela sétima arte, os cinéfilos de carteirinha e os que só sabem viver e respirar a arte de “capturar sonhos”, não esquecendo os iniciantes, para estes, o longa-metragem faz “viajar” pela invenção do cinema e pela história da vida de Georges Méliès, um cineasta francês, mestre do ilusionismo, que uniu o surrealismo com a possibilidade de eternizar sonhos projetados. Martin traduziu exatamente, de forma sensorial (sem precisar do artifício da terceira dimensão), apaixonada, passional, técnica e personificada em roteiro, a paixão que se sente ao assistir um filme. Não há como explicar o amor pelo cinema. É algo único, arrebatador, que arrepia a alma, despertando lágrimas e risos, sustos e desconfortos, desesperos e felicidades. Quando as luzes se apagam de uma sala de cinema, e ou, até mesmo em casa, ao iniciar o filme, se o coração ou bater mais rápido ou diminuir o ritmo e ou os dois, então o vicio pela arte de eternizar sonhos está, definitivamente, dominando as emoções e posso confirmar sem sombra de dúvidas de que este hábito nunca mais saíra da alma do espectador. O diretor é um mágico, assim como Mélies, e talvez fosse o único que conseguisse transpassar a atmosfera perfeita de uma época e da emoção pretendida. Juro que não entendi alguns não gostarem do filme. É uma obra de arte, de homenagem, propositalmente amadora, tendo uma estética técnica arrebatadora.


Hugo Cabret (Asa Butterfield) é um menino de 12 anos que vive escondido em uma estação de trem na Paris dos anos 30, onde cuida da manutenção de gigantescos relógios, função anteriormente exercida por seu tio desaparecido (Ray Winstone). À noite, usando peças de brinquedos que ele furta de uma loja da estação, o menino tenta consertar um autômato, única lembrança que herdou do pai, para desvendar um enigma. Seus planos, porém, correm perigo quando ele é descoberto pelo dono da loja e pela curiosa Isabelle (Chloë Grace Moretz). A sinopse apenas situa o espectador sobre a trama. Há muito mais do que isso. O roteiro é extremamente metafórico e utiliza-se de detalhes (assim como peças de um relógio) a fim de construir e amarrar a história contada. Hugo observa pessoas em uma estação de trem (passageiros que vão de algum lugar a outro). Corta e digressiono. Mélies ingressou-se na “profissão” filmando o cotidiano das pessoas. O maquinário de um relógio assemelha-se ao de uma câmera. A persistência e a repetição do personagem principal lembram as inúmeras tentativas de erro e acerto até o cinemascopio ter o seu “propósito”. E o cinema mudo, que “morreu” ao dar lugar ao falado, é protegido por estátuas de natureza morta.


“O tempo não tem sido gentil com os filmes antigos”, lamenta-se. “É como ver os sonhos de dia”, diz-se. “A invenção dos sonhos”, o tema cinema é completa, gerando muitas definições de efeito. “Todos possuem um propósito”, com essa frase personifica de vez o real objetivo do cinema. Traduzir emoções, divertir, emocionar pelo que se vê. O jovem cineasta, personagem apaixonado pela obra de Mélies, é a figura do próprio diretor Martin Scorsese, que aparece como figurante ator. “Com a guerra, juventude e esperança ficaram para trás”, tenta-se explicar a distância ao cinema. Como sonhar, se a realidade é tão perversa e próxima? As excelentes escolhas do elenco (como exemplos o inspetor da estação, Sacha Baron Cohen, o eterno “Borat”; Ben Kingsley, Helen McCrory - incrivelmente fantástica; e Chloë Moretz, de “Kick Ass”) e da parte técnica (incluindo fotografia e trilha sonora) colaboram com o sucesso do filme homenagem, que concorreu ao Oscar, ganhou em cinco categorias (efeitos visuais, fotografia, direção de arte, mixagem e edição de som) e se tornou uma importante película sobre a paixão pelo cinema de arte. Martin, obrigado por me consertar! Ao espectador, mais do que recomendado. Primeiro filme de Martin Scorsese sem Leonardo DiCaprio após nove anos de colaboração. E Em 2012, ganhou também do Globo de Ouro de Melhor Diretor (Martin Scorsese).



O Diretor

Martin Scorsese (Queens, Nova Iorque, 17 de novembro de 1942) é um cineasta, ator, produtor e roteirista norte-americano. Críticos e estudiosos do cinema chamam-lhe de "o maior diretor americano vivo"; vários dos seus filmes ocupam lugar de destaque nas listas dos melhores filmes do "American Film Institute" e na lista dos 250 melhores da Internet Movie Database. Embora seja alvo de grande admiração, e um dos nomes mais reconhecidos da indústria cinematográfica no mundo, por muitos anos foi considerado o grande "injustiçado" pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, por nunca ter ganho um Oscar. Em 2007, no entanto, Scorsese livrou-se desta sina ao ganhar o prêmio de Melhor Diretor por The Departed.