Crítica: Minha Felicidade

Ficha Técnica

Direção: Sergei Loznitsa
Roteiro: Sergei Loznitsa
Elenco: Viktor Nemets,Vladimir Golovin, Aleksey Vertkov, Dmitriy Gotsdiner, Olga Shuvalova, Maria Varsami, Boris Kamorzin, Vlad Ivanov, Olga Kogut, Konstantin Shelestun
Fotografia: Oleg Mutu
Produção: Heino Deckert, Oleg Kokhan
Distribuidora: Filmes da Mostra
Estúdio: Arte / Ma.ja.de. Fiction / Kinofilm / Lemming Film / Ma.Ja.De Filmproduktion / Medienboard Berlin-Brandenburg / Mitteldeutsche Medienförderung (MDM) / Sota Cinema Group / Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF)
Duração: 127 minutos
País: Alemanha/ Holanda/ Ucrânia
Ano: 2010



A opinião

“Minha Felicidade” é um filme ucraniano, dirigido pelo estreante, em longa-metragem de ficção, Sergey Loznitsa, conhecido por seus documentários, a maioria de curtas-metragens, e tem como diferencial o roteiro confuso, fragmentado em ações mínimas cotidianas, que partem da elipse temporal a fim de transpassar a trama às telas. Os planos cinematográficos são lentos, longos, reflexivos, com existencialismos brutos e instintivos, intercalando passado, presente e histórias paralelas sem a explicação narrativa. O espectador recebe a incumbência extremamente difícil de montar o quebra-cabeça e de se desapegar dos tipos humanos que passam pelo caminho. Cada um possui uma “bagagem” repleta de defesas e embasamentos para provar ações cometidas e ou a cometer, mesmo que não se saiba qual é. Sem dúvidas, o filme significa uma crítica ao país, à violência desmedida – e sem sentido (às vezes apenas para acelerar o tempo passado) – da polícia, que faz o trabalho inverso de proteger. Podemos definir como uma novela, não convencional, de linearidade programada, porque há o grande final. Só que quem resolver assistir – e desafiar os entendimentos – precisará saber pelo menos a sinopse. Georgy (Viktor Nemets), um caminhoneiro pega uma saída errada numa estrada e se perde em meio à natureza selvagem da área rural da Rússia.


Tentando achar o caminho de volta à civilização, ele conhece alguns habitantes locais, cada um com uma história a contar. Entre seus encontros está um amargurado veterano de guerra, uma prostituta adolescente e agressiva, muitos policiais corruptos e uma cigana misteriosa. Nessa viagem, a força bruta e o instinto de sobrevivência superam a humanidade e o senso comum, enquanto Georgy inadvertidamente segue rumo a um beco sem saída. O protagonista vivencia uma aventura que não objetivou, mesmo sendo caminhoneiro, como se fosse uma viagem ao túnel do tempo. Um lugar perdido, inanimado, desconfiado. “O diabo nos pegou. Acontece”, diz-se tentando fornecer direcionamento ao espectador. Entre frases adjetivadas, suavizadas e contrastadas pelo dizer direto e sem preocupação do retorno verborrágico, o roteiro segue com maior lentidão, arrastando-se entre uma e outra explosão, um tiro aqui, um soco lá, uma cena de sexo meio esquisita. Enfim, trocando em miúdos, é cansativo. Como se tivessem esquecido a câmera ligada.


Confesso, que a minha maior felicidade foi o término da película. Até porque o final é a catarse de todo filme. É o momento, que o desejo, ucraniano do diretor, e também de todos nós, ganhando força e extravasando a personificação do mal necessário. Porém não havia necessidade de se alongar tanto. Com alguns cortes e agilidades, o roteiro seria mais equilibrado e mais redondinho. Concluindo, faltou ao diretor o desapego na hora da montagem. São cenas soltas, muitas vezes sem conexões, que tentam enlaçar a engrenagem da história. Mas não podemos deixar de destacar a excelência das interpretações, como por exemplo, o ator Vlad Ivanov (de “Policia, Adjetivo”, “O Concerto”, “Contos da Era Dourada”), vivendo o Major de Moscou. Parece que não há interpretação. Que os atores são personagens e vice-versa. Isso faz com que a naturalidade adquira status quase de um documentário estilizado. É uma pena, porque o contexto não ajuda, indicando com fragilidade uma opinião aqui. O filme teve sessões no Festival de Cannes, com a presença de Paulo Coelho e sua bandeira brasileira estampada no casaco, e na Mostra de Cinema de São Paulo de 2010.


O Diretor

Nasceu em 1964, em Baranovitchi, Bielorrússia, e vive atualmente na Alemanha. Seus trabalhos mais recentes são os documentários “Blokade” (2005) e “Revue” (2008), compilações de documentos históricos com imagens de arquivos soviéticos raros. “Minha Felicidade” é seu primeiro longa-metragem de ficção.


Bastidores