Caminho Para o Nada

Ficha Técnica

Direção: Monte Hellman
Roteiro: Steven Gaydos
Elenco: Shannyn Sossamon, Tygh Runyan, Cliff De Young, Rafe Tachen, Waylon Payne, Dominique Swain, Rob Kolar
Fotografia: Josep M. Civit
Música: Tom Russell
Produção: Jared Hellman, Melissa Hellman, Monte Hellman, Steven Gaydos
Distribuidora: Lume Filmes
Duração: 121 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: ENTRE O MUITO BOM E O EXCELENTE



A opinião

“Caminho Para o Nada” apresenta-se como o novo filme do diretor Monte Hellman, de “A Vingança de um pistoleiro”, de 1959, com Jack Nicholson; “Noite do Silêncio”, de 1988, seu último longa-metragem antes deste em questão aqui. Neste intervalo, produziu o primeiro filme de Quentin Tarantino, “Cães de Aluguel”. Monte teve como mentor, Roger Corman, que lançou as carreiras de diversos diretores e atores hoje consagrados, como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Ron Howard, Peter Bogdanovich, Jonathan Demme, James Cameron, Curtis Hanson, John Sayles, Jack Nicholson, William Shatner, Peter Fonda, Dennis Hopper, Talia Shire and Robert De Niro. “É triste ficar só”, trecho da música country de Tom Russel, depressiva e melancólica, que inicia o filme, ajuda a manipular positivamente o espectador, assim como a sua narrativa surrealista, e embala uma mulher deitada na cama pintando as unhas. O roteiro explicita forte influência à obra do diretor David Lynch, por se apropriar da caracterização de imagens de sonhos e meticuloso desenho sonoro, traduzindo estranhezas e incompreensões em elementos personificados do subconsciente. É gerado confusão do entendimento, perturbando o público, já que adiciona possibilidades de reviravoltas dentro de uma ação dada como definitiva. Assim, desnorteia a quem assiste, obrigando uma remontagem das peças do quebra-cabeça da trama. Outro elemento é quanto ao tempo da ação. Prolonga-se a reflexão, excedendo o limite ao corte. A câmera, estática, captura o instante, e o deixa acontecer, sem interferências e interrupções, com planos longos e distantes.


“O perdão é o assassino das serpentes”, trecho da música, que explana o título do filme. A fotografia busca a sombra, o olhar perdido, cores fortes e desgastadas, insinuando-se aos poucos, ponto que se entende a complexa metalinguagem do roteiro não linear. É um documentário sobre um cineasta que estava fazendo um filme sobre um acontecimento baseado em fatos reais. Mitchell Haven(Tygh Runyan, de “15 minutos”, “Serpentes a bordo”) é um jovem cineasta que resolve rodar um filme baseado na história de um crime real, ocorrido no interior dos Estados Unidos, onde um político e sua amante aparentam ter cometido suicídio. Para interpretar a amante, Velma Duran, é contratada uma mulher misteriosa Laurel Graham (Shannyn Sossamon, de “O Amor Não Tira Férias”, “Beijos e Tiros”), bastante parecida com a pessoa na qual sua personagem é inspirada. Aos poucos Mitchell é envolvido e desenvolve obsessão pelo caso e por sua protagonista. Ele “escala” a blogueira Natalie (Dominique Swain, de “Alpha Dog”, “Adoradores do Diabo”), que relatava as evidencias criminais, a fim de fazer parte do grupo de pesquisa. Então, o processo de criação é iniciado. Roteiristas discutem sobre os atores possíveis. Scarlett Johansson e Leonardo DiCaprio são descartados. “Não posso contratar alguém que só seja famoso e fazer do meu filme um monte de dinheiro”, diz-se de forma utópica e sonhadora. E complementa “As três funções de um diretor são elenco, elenco e elenco. A beleza é apenas superficial, mas a feiura penetra nos ossos”.


O tom noir, de subtramas misteriosas, ganha força e conduz o espectador à competência, respeito e genialidade, principalmente quando fornece informações como conhecidas, esperando anaforicamente. A atmosfera pretende a superfície propositalmente, causando recorrentes sentimentos de “O que estou vendo mesmo?”. O filme não dá trégua, manipulando elementos até o final, sem explicações, como entrevistas metafísicas. É perdido o senso de realidade e ficção, de passado e presente, aumentando-se quando novas reviravoltas são apresentadas, sem a devida importância, como a adulteração das provas, acrescentando-se até o elemento interpretativo. As nuances de interpretações indicam e desvirtuam ao mesmo tempo, demonstradas também pela imagem não simétrica, uma tentativa de transpassar a naturalidade e os bastidores da vida fora das filmagens do filme. O cineasta fictício e a atriz assistem juntos “Obras-primas” do cinema, como “As Três Noites de Eva (The Lady Eve)”, de Preston Sturges, estrelado por Barbara Stanwick e Henry Fonda; “O Espírito da Colmeia (The Spirit of the Beehive), de Victor Erice; e “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman. Concluindo, “O Caminho Para o Nada” surpreende, causa estranhamento e confusão mental, e procura o lado psicótico de cada um de nós. É imperdível. Recomendo. Selecionado para a mostra competitiva do Festival de Veneza 2010. Filme de encerramento do I Festival Internacional Lume de Cinema.

Trailer




O Diretor

Nasceu em Nova York, em 12 de julho de 1932. Estudou Cinema na Universidade de Los Angeles. Estreou como diretor com “A Besta da Caverna Assombrada” (1960). Entre os anos 1960 e 70, se estabeleceu como um dos principais cineastas independentes americanos com filmes como “Disparo para Matar” (1966), com Jack Nicholson, “Corrida sem Fim” (1971) e “Galo de Briga” (1974), entre outros. Este é seu primeiro longa como diretor desde “Noite do Silêncio” (1989).