Crítica: Billi Pig

Ficha Técnica

Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: José Eduardo Belmonte, Ronaldo D'Oxum
Elenco: Selton Mello, Grazi Massafera, Milton Gonçalves, Otávio Muller, Milhem Cortaz, Preta Gil. Participações especiais de Cássia Kiss, Sandra Pêra, Zezeh Barbosa
Fotografia: André Lavenére
Música: Zepedro Gollo e Sascha Kratzer
Figurino: Kika Lopes
Edição: Bruno Lasevicius e Frederico Ribeincher
3D e Supervisão de Efeitos: Edu Nogueira
Produção: Vânia Catani
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Bananeira Filmes
Duração: 100 minutos
País: Brasil
Ano: 2011
COTAÇÃO: REGULAR



A opinião

O diretor José Eduardo Belmonte surpreendeu logo com seu primeiro longa-metragem “Subterrâneos”, um filme sobre o homem e o meio o qual vivencia a sociedade. Sempre ácido, transgressor e obcecado pelo tema existencial – incluindo limites da sobrevivência mental e física do ser humano, Belmonte realizou pequenas obras-primas: “A Concepção”, “Se nada mais der certo” e, o melhor de todos, “Meu Mundo em Perigo”. Os roteiros versam sobre fracassos, medos, fugas do próximo e de si mesmo dos personagens. O diretor extrai a essência da interpretação, realizando jogos lúdicos e condimentos gastronômicos, aguçando o sentido mais intrínseco. É um diretor independente, que tanto imprime filosofia realista, quanto competência técnica cinematográfica. Quando a notícia vazou de que o novo filme teria um gênero diferente, a comédia, a expectativa aconteceu de verdade, mesmo tendo o conhecimento prévio de que Belmonte já tinha experimentado humor nos seus primeiros curtas-metragens. “Billi Pig”, o quinto de sua carreira, aborda uma visão peculiar sobre a Chanchada, que teve como características principais o humor ingênuo, burlesco, de caráter popular, carnavalesco, entre as décadas de 1930 e 1960, pela produtora carioca Atlântida, feitas a partir da caricatura e trejeitos norte-americanos, eram adicionados temas do cotidiano nacional, como as anedotas tipicamente cariocas e o jeito malandro de falar e se comportar do brasileiro. O filme, em questão aqui, apresenta-se como um “ensaio” ao próximo filme, do diretor, “Gorila”. “Billi Pig” pode ser definido como nonsense, visando diversão, pincelando religião, auto-ajuda e amadorismo, e exacerbando elementos populares, pelas roupas, cores, atitudes e bairrismos.


Há o sobrenatural, ora tratado com seriedade, ora com deboche proposital; há a fantasia projetando uma loucura permitida, pelo fato de se conversar com um porco rosa de plástico; há epifanias, tanto por sonhos, utilizando-se o estado sonâmbulo de uma personagem, quanto pela realidade, bem mais esquizofrênica. Os protagonistas vivenciam tentativas de sobrevivência, apegando-se às possibilidades possíveis – e inalcançáveis. A aspirante a atriz Marivalda (Grazi Massafera, de “Didi, o Caçador de Tesouros”), seu marido Wanderley (Selton Mello, de “Lavoura Arcaica”), um corretor de seguros falido e um falso padre (Milton Gonçalves) fazem de tudo pra se dar bem na vida. Mas eles acabam nas mãos do chefe do tráfico, a quem prometeram salvar a vida de sua filha, atingida num tiroteio durante uma festa em São Cristóvão. Uma grande recompensa em dinheiro está em jogo e agora os três têm que correr atrás do milagre prometido. Logo no inicio, Marivalda segura a estatueta do Oscar, enquanto realiza trabalhos espirituais com índios. Um porco rosa (versão animada, explicitamente computadorizada) será sacrificado pela fama da iminente atriz. A figura do porquinho Billi representa a metáfora da infância, do crescimento, personificando um amuleto da sorte, que amplia percepções mentais, como forma libertária de se dizer o que pensa usando o “próximo” inanimado. O filme conta a história em tom novelesco, com vários núcleos que realizam a interação roteirizada. Há o das secretarias, Priscila Marinho, vivendo Eufrásia e Andrea Neves, a Beijoca – as duas estão fantásticas. Elas são engraçadas, exageradas, naturais e retornam o feedback de suas personagens.


Há o da funerária com mensagens de humor negro, como “Seja bem vindo!” tendo Preta Gil e Milhem Cortaz, a quem foi dado pimenta para comer a fim de que pudesse encontrar o tom interpretativo, dado que contou na entrevista realizada ao Vertentes do Cinema (veja o vídeo abaixo). Ele acrescentou dizendo que a Preta Gil causou medo nele pela tamanha energia. Há o dos traficantes estabanados, sentimentais e paspalhões. Há o do suposto padre e sua família. E há o casal Marivalda e Wanderley. Selton continua sendo Selton. Grazi cresce e já é visível o nascimento de uma estrela. Ela entrega-se, apresentando-se contida, totalmente dentro do papel. Todos são sonhadores e buscam, em pequenas tramóias, o sucesso de uma vida melhor. A música de “Apocalypse Now” comprova o ar de picardia e escracho. Ou as constantes referência a Marechal Hermes, subúrbio do Rio de Janeiro. Ou o dialogo “Você faz Cinema?”, “Por quê?”, indicado pela camisa do Festival do Rio do ano de 2010. Ou as alfinetadas ao futebol. Porém, mesmo com todos estes elementos, fragmentados, o longa-metragem não funciona. É confuso, solto, arrastado, amador demais, como se o pensamento fosse “Sobrou tempo. O que fazer? Ah, vamos colocar um show de Arlindo Cruz no lugar”. Nos créditos finais, o espectador poderá assistir aos bastidores e erros de gravação, no melhor estilo “Video Show”, da Rede Globo. Concluindo, um filme com elementos demais, que se perdem no meio do caminho, deixando o contexto tedioso e infantilizado. Mas é lógico que se deve assistir, porque cinema é feito de momentos especiais, e este longa-metragem possui vários. Para evitar um processo judicial aberto pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a estatueta do Oscar vista em cena tem os braços atrás do corpo, para diferenciá-la da original.

Trailer e Entrevistas



O Diretor

Nascido em São Paulo em 1970, mudou-se para Brasília quatro anos depois. Lá, formou-se em cinema pela Universidade de Brasília. Fez seu primeiro curta-metragem, Três (1995), sob orientação de Nelson Pereira dos Santos. Ainda no formato curta, seguiram-se 5 filmes estrangeiros (1997), Tepê (1999) – prêmio do público nos festivais de Brasília, Gramado e Vitória, Dez dias felizes (2002) e Um trailer americano (2002). Em 2003, estreou em longa com Subterrâneos, filmado inteiramente no Conic, um conjunto de prédios em Brasília. Em 2005, lançou A concepção, em parceria com a produtora Olhos de Cão, de Paulo Sacramento. O filme ganhou os prêmios de melhor trilha sonora e montagem no Festival de Brasília. Em 2007, lançou seu terceiro longa-metragem, Meu mundo em perigo. Em 2008, seu quarto longa, Se nada mais der certo, levou os prêmios de melhor longa de ficção e de melhor atriz do Festival do Rio daquele ano.

Filmografia

2012 - Billi Pig
2010 - Meu mundo em perigo (Prêmios de melhor ator para Eucir de Souza e melhor ator coadjuvante para Milhem Cortaz no Festival de Brasília de 2007)
2008 - Se nada mais der certo (Prêmios de melhor longa de ficção e de melhor atriz do Festival do Rio de 2008. Prêmios de melhor filme, roteiro e ator no 19º Cine Ceará de 2009)
2005 - A concepção (Prêmios de melhor trilha sonora e montagem no Festival de Brasília)
2003 - Subterrâneos
2002 - Um trailer americano (Curta-metragem)
2002 - Dez dias felizes (Curta-metragem)
1999 - Tepê (Curta-metragem)
1997 - 5 filmes estrangeiros (Curta-metragem)
1995 - Três (Curta-metragem)


Bastidores