Os Descendentes

Ficha Técnica

Direção: Alexander Payne
Roteiro: Alexander Payne, Nat Faxon, Jim Rash, baseados na obra de Kaui Hart Hemmings
Elenco: George Clooney, Judy Greer, Shailene Woodley, Matthew Lillard, Beau Bridges, Robert Forster, Rob Huebel, Michael Ontkean, Mary Birdsong, Sonya Balmores, Amara Miller
Fotografia: Phedon Papamichael
Música: Dondi Bastone
Direção de arte: T.K. Kirkpatrick
Figurino: Wendy Chuck
Edição: Kevin Tent
Produção: Jim Burke, Alexander Payne, Jim Taylor
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Ad Hominem Enterprises
Duração: 115 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: BOM



A opinião

Baseado no primeiro livro de Kaui Hart Hemmings, o filme homônimo, em questão aqui, “Os Descendentes”, busca o objetivo de apenas contar uma história, sem o aprofundamento sentimental. Para isso, o roteiro mantém a narrativa na superficialidade, de forma proposital e pretendida pelo cineasta independente, de origem grega, Alexander Payne, conhecido por dirigir “Sideways – Entre Uma e Outras”, “Eleição”, “As Confissões de Schmidt” e o segmento de curta-metragem “Paris, Eu te Amo” e por imprimir senso de humor negro e representações satíricas da sociedade americana contemporânea. Seus filmes tratam de adultério e relacionamentos, vistos com distância, quase como terapêuticos (mantendo o profissionalismo da ação, e consequentemente, a reação). Não é permitido ao espectador o envolvimento, que assiste a tudo como observador. Percebemos forte influência de outros cineastas, como por exemplo os Irmãos Coen. O pano de fundo é o Hawaii, que se localiza num arquipélago no meio do Oceano Pacífico, podendo ser considerado o Estado americano mais isolado em relação ao resto do país. A metáfora torna-se explicita e crítica. “Todos pensam que morar no Hawaii é o paraíso”, diz-se. Só que mesmo lá, os problemas existem, e a música típica do lugar, que acompanha o filme, não faz com que a felicidade seja melhorada, muito menos, permanecer em estado constante de alegria. Há 23 dias a vida de Matt King (George Clooney, de “Tudo Pelo Poder”, “Amor Sem Escalas”) mudou completamente. Foi nesta data que sua esposa Elizabeth (Patricia Hastie) sofreu um sério acidente de barco e entrou em coma. Desde então cabe a Matt cuidar das filhas Scottie (Amara Miller) e Alexandra (Shailene Woodley), que estuda e vive em outra ilha do arquipélago. Quando é informado pelos médicos que sua esposa irá morrer em breve, Matt resolve trazer Alexandra de volta. Ele conta com a ajuda dela para contar a triste notícia aos amigos e familiares, de forma que eles possam se despedir de Elizabeth ainda em vida.


Desbocada e de gênio difícil, Alexandra surpreende o pai ao contar que sua mãe o estava traindo. A notícia afeta profundamente Matt, que passa a querer saber quem era o amante de sua esposa e se ela o amava. Obviamente, é um filme de ator. Clooney transpassa ser George Clooney, talvez, por isso, ganhou o prêmio de Melhor Ator no Globo de Ouro deste ano, festival este considerado uma prévia do Oscar. É difícil o entendimento dos critérios para que uma estatueta seja merecida por algum trabalho. Payne fornece liberdade a George, que conduz a si próprio e aos outros personagens. É uma interpretação contida, mais ao realismo, usando o absurdo até antes do limite permitido, mas cá entre nós, não é a melhor de sua carreira (às vezes o prêmio é fornecido pelo contexto profissional até o momento). O que mitiga de vez a carga emocional é a não utilização de músicas nos momentos mais dramáticos. Podemos quase defini-lo como um longa-metragem sobre a hipocrisia, que se contradiz pelo uso da hipocrisia, gerando uma conseqüência madura, talvez, por causa da forma ainda politicamente correta enraizada. O espectador pode observar que mesmo com a rebeldia latente e iminente, as regras sociais de boa conduta permanecem, usando como catarse, um palavrão aqui, outro acolá, um soco aqui, para logo depois o perdão acontecer. São muito frágeis os indivíduos que o roteiro aborda. São defensivos, medrosos, agem, mediante o querer dos outros, culpam-se por alguma ação fora do tom. É extremamente cansativo. Como saída, volta e meia, eles reavaliam suas vidas, ora por um acontecimento trágico, ora por não agüentarem mais mesmo. A traição, vista como elemento negativo, pode ser uma solução à reestruturação.


Com toda superficialidade, o diretor, que também participa como um dos roteiristas, insere esperança, remissão, aceitação e resiliência. Concluindo, um filme que aborda vidas cotidianas, num determinado momento de resolução problemática, sem a pressa, respeitando o tempo da ação e a conseqüência da reviravolta de situações banais (mas nem por isso, desinteressantes) da existência de um grupo de pessoas. Recomendo. O filme resgata, cinicamente, porém sutil, Kamehameha I, descendente a família de Matt, que centralizou o governo do arquipélago, e instituiu uma monarquia. Em 1894, o arquipélago tornou-se uma república, e quatro anos depois, em 1898, foi invadido militarmente e anexado pelos Estados Unidos da América, tornando-se um território americano em 1900. Desde então, grande número de pessoas com ascendentes europeus, vindos de outras partes do país, bem como imigrantes asiáticos, instalaram-se no Havaí, dando à população local um aspecto altamente multicultural. Recomendo. Payne produziu o filme com os mesmos produtores de “Com as Próprias Mãos” (2004) e “Eu os Declaro Marido e... Larry” (2007). A experiência de Shailene Woodley resumia-se a filmes para a televisão e participação em seriados, como “O.C. - Um Estranho no Paraíso”. A voz que se ouve, vinda da televisão, na sequência final do filme é de Morgan Freeman. Segunda vez que George Clooney e Judy Greer (“De Repente 30”) trabalham juntos. A primeira aconteceu em “Três Reis” (1999). Indicado ao OSCAR 2012 de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator - George Clooney, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Vencedor do Globo de Ouro de 2012 nas categorias Melhor Ator e Melhor Filme – Drama.




O Diretor

Constantine Alexander Payne, nascido em 10 de fevereiro de 1961 em Omaha, no estado americano do Nebraska, é um cineasta e guionista americano de descendência grega.
Seus filmes são conhecidos pelo senso de humor negro e representações satíricas da sociedade americana contemporânea. Seus filmes também tratam de adultério e relacionamentos. Payne faz algumas cenas em locais históricos e museus, e costuma usar pessoas comuns para papéis menos relevantes (policiais reais atuam como policiais). Ele também incorpora monólogos no telefone como um recurso dramático. Payne geralmente escreve roteiros em parceria com Jim Taylor.

Filmografia

2011 - Os Descendentes (The Descendants)
2006 - Paris, eu te amo (Paris, je t'aime)
2004 - Sideways - Entre umas e outras (Sideways)
2002 - As confissões de Schmidt (About Schmidt)
1999 - Eleição (Election)
1996 - Ruth em questão (Citizen Ruth)
1992 - Inside out (episódio "My secret moments")
1991 - Passion of Martin, The (média-metragem)