Tudo Pelo Poder

Ficha Técnica

Direção: George Clooney
Roteiro: Grant Heslov
Elenco: George Clooney, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Jeffrey Wright
Fotografia: Phedon Papamichael
Música: Alexandre Desplat
Direção de arte: Chris Cornwell
Figurino: Louise Frogley
Edição: Stephen Mirrione
Produção: Grant Heslov, George Clooney, Brian Oliver,
Distribuidora: Califórnia Filmes
Estúdio: Smoke House
Duração: 101 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: EXCELENTE




A opinião

Mesmo com apenas quatro filmes, o agora diretor George Clooney, construiu uma carreira autoral e incrivelmente competente, advindo de escolhas precisas como ator desde o seriado de televisão “Plantão Médico”. O primeiro longa-metragem “Confissões de Uma Mente Perigosa”, de 2002, com roteiro de Charlie Kaufman, já dava indícios de que seguiria pelo universo independente, influenciados por Steven Soderberg, seu mentor de “Solaris”, “Onze Homens e um Segredo” e ”O Segredo de Berlim”, entre outros. Em “Boa Noite, Boa Sorte”, de 2005, que conta em preto-e-branco, com fotografia saturada ao brilho, a história de Edward R. Morrow, um âncora de televisão que entra em confronto com o senador Joseph McCarthy ao expor as táticas e mentiras usadas por ele em sua caça aos supostos comunistas. Em 2008, traz “O Amor Não Tem Regras”. Em seu quarto e mais recente trabalho, “Tudo pelo poder” aborda os bastidores de uma campanha presidencial, mostrando que tudo é permitido ao “bem comum” da sociedade e ao objetivo almejado, que é a vitória. Assim como os seus filmes anteriores, Clooney também atua como ator, mas sempre inclui outro mais importante, talvez para que possa fornecer maior credibilidade, verossimilhança e humildade à trama, atributo que parece intuitivamente verdadeiro a uma realidade portadora de uma aparência ou de uma probabilidade de verdade, na relação ambígua que se estabelece entre imagem e ideia. Nada mais é do que um juízo de probabilidade. O diretor consegue passear por universos da sobriedade e do realismo, mesclando soluções possíveis e necessárias, mesmo não condizentes com o politicamente correto da ética e moral. O roteiro apresenta a fantasia lúdica da perfeição, na primeira cena a qual manipula inteiramente o espectador, o desviando, magistralmente, à crítica que não se incomoda com a pressa de expor, mas sem a correria e afobamento.


“A minha religião é a Constituição dos Estados Unidos da América”, inicia-se como base à crítica explicita ao que se precisa fazer a fim de resultar positivamente um objetivo pretendido. Clooney não é bobo nem nada, chama o amigo Ryan Gosling (de “Segredos e Mentiras”, “Drive”, “Amor a Toda Prova”, “Namorados para Sempre” e escolhido pela revista Time como o homem mais cool – descolado – de 2011) para ser seu alter ego, explicitado no próprio pôster. O personagem de Ryan, Stephen Myers, é um idealista, membro da equipe do candidato à presidência dos Estados Unidos Mike Morris (George Clooney), que se surpreende ao descobrir as deslizes de seu “mentor idealizado” em torno da política na corrida pela Casa Branca. Em especial, um caso de corrupção que ameaça a promissora campanha. A narrativa apresenta estes bastidores. É seco, direto, informativo, verborrágico e acelerado. Parte-se do principio que o espectador é inteligente o suficiente para absorver as reviravoltas e os percalços do caminho (tanto da trama, quanto da história). “São as abelhas operacionais”, diz-se. Os clichês propositais estão bem representados. A secretaria que leva o café, a reunião para estruturar o que será dito na coletiva de imprensa, as alianças entre imprensa e campanha, as artimanhas, os jogos partidários, lobbys, a estagiária adolescente, tudo é incrivelmente natural, que mais parece um documentário ficcional. Os discursos mantêm-se na perspicácia, sagacidade e no humor de embate político. O jazz acompanha a excelente trilha sonora do premiado compositor Alexandre Desplat (de “Árvore da Vida”, “Harry Potter”).


“Você irradia alguma coisa. E faz parecer fácil”, elogia-se. “Típica sujeira republicana”, rebate-se. “Casado com a campanha”, tenta fazer graça, mostrando o personagem sombreado a frente da bandeira, metaforizando a explicação sutil. O filme é Baseado na peça "Farragut North", de Beau Willimon, que estreou na Broadway em 2008. O estúdio Sony Pictures preferia que o filme chegasse aos cinemas com o título original da peça, por ser mais conhecido do público, mas acabaram aceitando a ideia de Clooney por “The Ides of March”. Os acasos modificam crenças sociais. E toda ideologia radical transforma-se em marketing danoso que prejudicará mais do que ajudará. Vive-se a beira dos limites, da pressão, e por causa das armações, o cinismo é incorporado em doses cavalares. “Este é um mundo em que um erro toma proporções enormes”, explica-se. Quando o tombo é inevitável, a volta por cima não mede ética, nem moral, vinga-se sem compaixão e arrependimento, lutando pelo mínimo que importa: dignidade e integridade. O elenco ainda conta com Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Jeffrey Wright. Concluindo, um filme que merece ser assistido pela grandeza e competência tanto dos atores quanto do roteiro, transformando o longa-metragem numa experiência extremamente satisfatória. Recomendo. Indicado ao GLOBO DE OURO 2012 nas categorias: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor - George Clooney, Melhor Ator - Drama - Ryan Gosling e Melhor Roteiro. Foi o filme de abertura do Festival de Veneza em 2011. E tem Leonardo DiCaprio como um dos produtores executivos. The Ides of March é também o dia (15 de março) em que o Imperador Júlio César foi assassinado. Teve orçamento estimado de US$ 12.5 milhões.




O Diretor

George Timothy Clooney nasceu em Lexington, 6 de maio de 1961. É filho do apresentador de televisão Nick Clooney e de Nina Clooney. George acompanhava o pai nos estúdios desde os cinco anos de idade. Para evitar a competição com o pai, George Clooney abandonou seu emprego de jornalista televisivo e começou a trabalhar como ator quando seu primo, Miguel Ferrer, lhe conseguiu um pequeno papel num filme. Depois começou a atuar na playboy, chegando ao auge do sucesso com o seriado ER interpretando o Dr. Doug Ross, o qual abandonaria em 1999 para começar uma carreira mais efetiva no cinema. Participou do episódio de despedida de sua colega Julianna Margulies em 2000. Em 2009, George retornou à série em sua última temporada para mais uma participação especial.Entre seus filmes mais conhecidos estão: Três reis, Onze homens e um segredo, O amor custa caro, Solaris, Batman & Robin e Syriana, pelo qual ganhou o Globo de Ouro e o Oscar de melhor ator coadjuvante. Além de atuar em frente às câmeras, dedica-se, esporadicamente, ao trabalho de diretor, como nos filmes Confissões de uma mente perigosa e em Boa noite e boa sorte, pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar de melhor diretor em 2006. Apesar de ter uma carreira promissora em filmes bastante comerciais, decidiu investir em projetos ousados e com temáticas sociais como o filme Syriana.