Late Bloomers - O Amor Não Tem Fim

Ficha Técnica

Direção: Julie Gavras
Roteiro: Olivier Dazat, Julie Gavras
Elenco: William Hurt, Isabella Rossellini, Doreen Mantle, Kate Ashfield, Aidan McArdle, Arta Dobroshi, Luke Treadaway, Leslie Phillips, Hugo Speer, Joanna Lumley
Fotografia: Nathalie Durand
Música: Sodi Marciszewer
Direção de arte: Amy Merry
Figurino: Marianne Agertoft
Edição: Pierre Haberer
Produção: Bertrand Faivre, Sylvie Pialat
Distribuidora: Art Filmes
Estúdio: Les Films du Worso, Le Bureau, BE-FILMS, Canal+, CinéCinéma, Programme MEDIA de la Communauté Européenne, i2i Audiovisual, Procirep, Angoa-Agicoa, uFilm
Duração: 94 minutos
País: França/ Bélgica/ Reino Unido
Ano: 2011
COTAÇÃO: BOM



A opinião

“Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim” é uma comédia romântica, diferente do usual, porque aborda o redescobrimento da vida aos sessenta anos, inserindo questionamentos do que se pode ou não fazer nesta idade. A diretora Julie Gavras, de “A Culpa é do Fidel”, sucesso de público e crítica, é filha do cineasta grego Constantin Costa-Gavras, que utiliza a política como pano de fundo em suas obras. Em seu segundo filme, este em questão, Julie traz a segunda parte de uma “trilogia” sobre idades de protagonistas mulheres. Conversando com a diretora, a mesma disse que não considera um “fechamento de um ciclo”, apenas “calhou” de ser assim. Em “A Culpa de Fidel” aborda a infância, em “Late Bloomers”, a velhice e o seu próximo projeto, título provisório de “The Chocolate War”, contará a idade média, a dos quarenta. Ela nasceu na Itália, filha de Grego e mora na França. Não toma vinho e não come queijo. Em seu recente filme, escala Isabella Rosselini e Wiliam Hurt, ator escolhido pelo trabalho em “O Beijo da Mulher Aranha”, de Hector Babenco. “Uma escolha óbvia”, disse. Já o motivo da atriz foi: “Eu precisava de uma atriz perto dos 60 anos, que não tivesse feito plásticas e ela foi o melhor que podia acontecer para o filme”. “Late Bloomers” é aprender a aceitar a própria idade. Casados há 30 anos, Mary (Rossellini) e Adam (Hurt) passaram mais da metade de suas vidas juntos, criando os filhos e aguardando a chegada de uma fase mais tranquila. No entanto, percebem que estão envelhecendo, então começam, cada uma a sua maneira, a enfrentar essa nova realidade. Adam vê sua carreira e situação financeira não serem tão prósperas como antes e Mary começa a apresentar indícios de lapsos de memória. É inevitável o pensamento de que quando se completa sessenta anos, nada mais poderá acontecer e que tudo já se encontra consolidado, impossibilitado de mudanças.


Dentro do rol destas questões, aparece o impedimento às transformações comportamentais, ficando mais difícil absorver novidades cotidianas, como tecnológicas e ou alimentícias (no caso a bebida energética). Eles, os detentores desta idade, já viveram o que a época deles ofereceu, já simplificaram o entendimento sobre as coisas, percepções e construções mentais. Eles esperam as conseqüências da velhice. As dores, limitações físicas – e psicológicas – e a morte propriamente dita. A maturidade é isto. O equilíbrio de não se ter mais adrenalinas e passionalidades. Mary tenta resgatar o frescor da juventude, insinuando-se em um bar, buscando o flerte ingênuo de ser desejada. Adam quer recuperar o idealismo perdido criando um projeto divergente até mesmo do seu estilo, com isso aproveita o fato para se aproximar dos filhos já criados e adultos. A narrativa opta pela teatralização. As interpretações buscam o melodrama para acontecer, por ações de comédia leve e superficial, gerando reações caricatas, com humor pastelão, beirando o patético. Na entrevista, a diretora explica “Leve é bom. É leve no sentido de que é uma comédia, mas o assunto não é tão leve quanto o de “A Culpa de Fidel”, pois fala de envelhecimento e morte. É um tema complicado de abordar e a comédia foi uma melhor saída para mim”. Quanto à parte técnica, um filme é um primor.


Com seus planos longos, simétricos, amplos e existenciais, começando com uma atmosfera de orquestra cubana, quase feliz. “Grande mistério do cérebro. O passado eu lembro”, diz ao médico e recebe a resposta “Você precisa fazer exercícios físicos. Ficar ativa é saudável”, diálogo com um misto de auto-ajuda aos idosos e metáfora, porque há a dificuldade do novo, então o que passou é mais seguro, pois já é conhecido e vivido. Mary vivencia os estereótipos. Hidroginástica só serve aos “velhos”. Ela sente inapta às aulas. Um destes motivos é a dignidade de sua elegância sistemática. Ele desconfiado do Red Bull e da pizza (?). Como assim pizza seria uma novidade? A maioria dos diálogos utiliza a perspicácia e inteligência, às vezes crueldade (no caso da mãe) a fim de direcionar novas etapas – e reviravoltas – do filme, que muitas das vezes são obvias e já esperadas, com frases que querem ser Cult, mas caem no senso comum. Ela busca a clínica de cirurgia plástica. No letreiro, “Hope (esperança)”. A cena das “velhas” dando lição de moral no arquiteto “velho”, extremamente desnecessária, e desesperada, destoa o ritmo que o roteiro tinha conseguido anteriormente, além de ser clichê. Ele precisa de dinheiro e vai pedir aos “velhos”. “Mecenas? Sabia que o artista Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni conseguia dinheiro vendendo trabalhos?”. Após a epifania, projetada por um sonho, surgindo a frase divertida “Envelhecer é para macho”. Há simbolismos. A mãe vira criança, a idade cognitiva diferente da real (12 anos a menos). “Velha pirada. A velhice atinge a sabedoria”, finaliza-se. Concluindo, um filme com altos e baixos, optando-se por interpretações teatrais, que impedem o mergulho do espectador ao aprofundamento. É uma comédia leve. Talvez leve demais. Recomendo. Um bom filme.

Trailer


Entrevistando Julie Gavras




A Diretora

Nasceu em 1970 na Bolonha, Itália, e é filha do cineasta Costa-Gavras. Depois de se formar em literatura e direito, dedicou-se ao cinema. Começou como assistente de direção na Itália e na França em publicidade, telefilmes e longas-metragens. Trabalhou com diretores como Robert Enrico, Claire Devers e Jacques Nolot. Em 1998, dirigiu o curta-metragem Oh les Beaux Dimanches! Em 2000, realizou seu primeiro documentário, From Dawn to Night: Songs by Moroccan Women. Seu segundo filme de não-ficção foi The Pirate, the Wizard, the Thief and the Children (2002). Dirigiu também documentários para as emissoras de TV Arte e France 5. A Culpa é do Fidel (2006) foi seu primeiro longa-metragem de ficção.