Sudoeste

"Um filme que venta demais"

A opinião (por Fabricio Duque)

“Sudoeste”, a cada exibição, torna-se um fenômeno cinematográfico de público e crítica. Um dos motivos é a sua parte técnica. A fotografia, de Mauro Pinheiro Jr, em preto-e-branco, estilizada e saturada ao brilho encanta. É unânime a concordância, enaltecida de adjetivos como arrebatadora, espetacular, magistral e exuberante. Dirigido pelo estreante, em longa-metragem, Eduardo Nunes (com cinco curtas-metragens na filmografia, vencedores de mais de 40 prêmios e exibidos em importantes festivais como de Berlim, Havana, Clermont e Roterdã), o filme ainda expressa uma não linearidade, utilizando-se do poético e do lírico a fim de construir a trama apresentada, de mais de duas horas de duração, com planos longos, contemplativos e existenciais. O tempo anda, digressionando a história de Clarice (Simone Spoladore – adulta – e Raquel Bonfante – quando criança), que percebe, numa vila isolada do litoral brasileiro onde tudo parece imóvel, a sua vida durante um único dia, em descompasso com as pessoas que ela encontra e que apenas vivem aquele dia como outro qualquer. Ela tenta entender a sua obscura realidade e o destino das pessoas a sua volta num tempo circular que assombra e desorienta. No elenco, podemos apreciar a interpretação de Dira Paes. Porém outros não convencem em seus papéis, prejudicando o aprofundamento do espectador. A sensação que passa é a de uma encenação proposital desejando o realismo. Há ainda o ator mirim Victor Navega Motta (de “Não Se Pode Viver Sem Amor”). Um longa-metragem lindo esteticamente, mas que se apresenta com pretensão ingênua ao não trabalhar a fundo o quesito interpretativo e ao impor estranheza narrativa, tendo as peças do quebra-cabeça montadas ao pouco. A atmosfera infere a “Insolação”, que também conta com Simone Spoladore, a musa presente e recorrente no nosso cinema nacional. Concluindo, soa arrastado, mesmo com toda experiência sensorial e visual que pulula aos olhos de quem tenta imergir ao o que está sendo contado.