Amanhã Nunca Mais

Ficha Técnica

Direção: Tadeu Jungle
Roteiro: Maurício Arruda, Marcelo Muller, Tadeu Jungle
Elenco: Lázaro Ramos, Maria Luisa Mendonça, Fernanda Machado, Paula Braun, Milhem Cortaz
Fotografia: Ricardo Della Rosa
Música: André Abujamra e Márcio Nigro
Direção de arte: Valdy Lopes
Figurino: Cássio Brasil
Edição: Estevan Santos e Jon Kadosca
Produção: Paulo Roberto Schmidt
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Academia de Filmes
Duração: 77 minutos
País: Brasil
Ano: 2011
COTAÇÃO: MUITO BOM



A opinião (por Fabricio Duque)

Durante o Festival do Rio 2011

“Amanhã Nunca Mais” apresenta-se como um filme despretensioso, divertido, perspicaz e inteligente. “Uma comédia noturna”, assim, o longa-metragem é definido pelo diretor Tadeu Jungle (um dos diretores de Amor em 4 Atos da TV Globo). Desde o início, a história “fisga” o espectador, prendendo a sua atenção. Não há quebra narrativa. O equilíbrio da proposta objetivada segue até o final. É assumido o deboche, o sarcasmo, o humor negro e o politicamente incorreto, este último servindo de crítica à hipocrisia do contrário. Quem assiste é conduzido pelo acaso, gerando reviravoltas surreais e absurdas, porém críveis aos olhos cotidianos. Em uma noite como outra qualquer em São Paulo, Walter, um homem de classe média sai para buscar o bolo de aniversário de sua filha. O que poderia ser uma tarefa simples, desestruturando o eixo de todos os costumes, o transformando e o ensinando a dizer a palavra não. O roteiro questiona as pessoas que são boas demais, que seguem as regras sociais de convivência pacifica; e apresenta a solução do descontrole que gera a catarse libertadora. Fantástico. Imperdível.

A opinião (complementado em 10/11/11)

O longa-metragem inicia com uma câmera posicionada em um carro em alta velocidade pelas ruas de São Paulo. A fotografia estilizada é saturada ao brilho escurecido, soturno, de submundo, acompanhada por música de Arnaldo Antunes.


Nova cena, o nosso personagem principal preso em um engarrafamento, informando que aquele momento acontece uma semana antes. O filme fornece elementos prévios, intercalando futuro, passado e presente. Outra cena, Walter está na praia, ao seu redor tipos comuns gordos, magros, com pêlos, defeitos físicos, celulite. Lá, um homem paquera a sua esposa. Percebemos que o protagonista é o típico personagem que não diz não, que aceita tudo calado, pela ordem da boa convivência social. Todos os solicitam, ele tenta agradar a todos. Aos poucos, o espectador sente a pressão do protagonista e torce para que ele revolte-se perante aos abusos – escondidos – sociais. A câmera transpassa nostalgia, uma época perdida, de lembrança. Há praia lotada, o pós-praia, o trânsito, a coxinha (salgado) da sogra. Não consegue dizer não. É um bonzinho inveterado. Tem a síndrome patológica da ajuda. A sua aventura de transformação acontece quando necessita pegar o bolo de aniversário. Neste momento, a lei de Murphy entra em cena e situações absurdas, porém críveis, tentam o impedir a realizar simples ações, porém, em contrapartida, estas mesmas ações o modificam integralmente, despertando a dignidade e o auto-respeito.


O roteiro, com seus diálogos, aborda sem tabus, de forma debochada, politicamente incorreta, liberal. Tudo testa a sua paciência, injetando, quem está sentado na cadeira do cinema, a adrenalina de se revoltar pelo personagem. Tudo acontece. São cobranças e incidentes. Ele passa por tipos diversos, o “traveco”, o motoboy, a festa judaica, uma antiga “amiga” (não lembrada) louca, a lentidão das pessoas. Desgraça pouca é bobagem. “Enfermeiro não, médico”, exaspera-se. O elenco é magnífico. Walter é interpretado por Lázaro Ramos, um médico-anestesista que trabalha em excesso e vive sob grande estresse. Na tentativa de estar presente na vida da família e salvar o casamento em crise, ele se prontifica a buscar o bolo de aniversário da sua filha e levá-lo à festa. No entanto, ele enfrenta uma noite inusitada, repleta de percalços, acasos e coincidências que irão atrapalhar seus esforços de chegar com o bolo a tempo. Destaque para Maria Luisa Mendonça, fazendo uma bêbada ninfomaníaca. Começa a segunda fase. Catarse, desespero, intolerância, esgotamento, fim do limite suportável. Resolve a vida com decisões, aceitando os acasos lineares. Concluindo, o filme é fantástico. Com um elenco que complementa o funcionamento do ritmo empregado. Prende a atenção do espectador do inicio ao fim. Recomendado. Vale muito à pena assistir. Não Perca! Selecionado para a Première Brasil do Festival do Rio 2011. E ganhador do Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Ana Luisa Mendonça.

Entrevistas e Trailer (Festival do Rio 2011)




O Diretor

Nasceu em 1956, em São Paulo. É um artista multimeios. Foi um dos diretores de Amor em 4 Atos (TV Globo), Amazônia Niemeyer e da série Amores Expressos. Seu próximo projeto é o documentário Evoé, que será lançado em em breve.