Amizade Colorida

Ficha Técnica

Direção: Will Gluck
Roteiro: Will Gluck, Keith Merryman, David A. Newman
Elenco: Emma Stone, Mila Kunis, Justin Timberlake, Rashida Jones, Patricia Clarkson, Richard Jenkins, Woody Harrelson
Fotografia: Michael Grady
Direção de arte: Bo Johnson
Figurino: Renee Ehrlich Kalfus
Edição: Tia Nolan
Produção: Liz Glotzer, Martin Shafer, Janet Zucker, Jerry Zucker
Distribuidora: Sony Pictures
Estúdio: Castle Rock Entertainment
Duração: 109 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: MUITO BOM



A opinião

“Amizade Colorida” conta com a presença do ator Justin Timberlake como protagonista. Ele, ex-integrante da pop boy banda ‘N Sync, seguiu em carreira solo. Em 2003, gravou a música intitulada "I'm Lovin' It" ("Amo Muito Tudo Isso"), que foi usada pela McDonald's como tema da sua campanha publicitária. Participou dos clipes musicais de Madonna, Nelly Furtado, Christina Aguilera, entre outros artistas, chegando a apresentar o episódio de final de temporada (2011) do programa de comédia americana Saturday Night Live, dividindo o palco com Lady Gaga.

É inevitável a sua predileção ao sucesso, sempre embarcando em projetos diferenciados, visível se traçarmos um perfil de sua filmografia. Justin adotou o estilo independente-comercial, gênero mesclado que pode ser entendido pela vendagem (bilheteria) de sua imagem para com os espectadores. Ele passeia por inúmeros estilos com extrema naturalidade, explícitos em “Alpha Dog”, do diretor Nick (filho de John Cassavettes), “A Rede Social”, de David Fincher e “Shrek Para Sempre”, dublando Artie Pendragon.

O filme em questão, dirigido por Will Gluck (de “A Mentira”) – que também participa como um dos roteiristas, traz no elenco para ser o par romântico de Justin, Mila Kunis, atriz ucraniana, conhecida por encarnar a personagem Jackie Burkhart na série de televisão “That '70s Show”, contracenando com Ashton Kutcher. Mas foi com “Cisne Negro” (ao lado de Natalie Portman) que se consagrou internacionalmente. Como curiosidade digressional, o título original “Friends of Benefits” foi motivo de uma pequena polêmica entre os estúdios Screen Gems e Paramount.

Um projeto chamado Fuckbudies iria mudar seu título para Friends with Benefits, mas a Screen Gems já tinha registrado o nome primeiro, restando a opção de “No Strings Attached”, lançado no Brasil como Sexo Sem Compromisso (2011), estrelado por Ashton Kutcher e Natalie Portman. Em “Amizade Colorida”, os dois atores possuem química, uma ligação de convivência natural, fornecendo ao espectador o convencimento da trama apresentada.

A narrativa inicial é ágil, moderna, metalingüística, atual, verborrágica (como o universo da internet), sarcástica, perspicaz, com virtuosismo, de humor negro sem pudores, desejando mitigar qualquer resquício do politicamente correto. Porém é um longa-metragem direcionado ao público americano, então regras sociais necessitam ser seguidas. Há crítica até o permitido, mesmo quando expõe a liberação sexual, o sexo sem compromisso, a mãe que mais parece uma filha (trocando os papeis familiares), o querer de algo – o medo da desilusão gerando a defesa individualizada.

O roteiro objetiva o jogo com o espectador, o manipulando ao desviar a sua atenção, quando a conseqüência de uma história funde-se a outra. De um lado, Justin vive Dylan. Do outro, Mila vivencia Jamie. Os dois possuem como elemento de ligação o lado profissional e por terem sofrido término de namoro. A dele é desencadeada por ter perdido o show do John Mayer. “Perdemos ‘Your body is a wonderland’. Ele (o cantor) é a Sheryl Crow da nossa geração”, exaspera-se.

E complementa “Você é indisponível emocionalmente”. Na parte de Jamie, o atraso de um filme desperta verdades do relacionamento. “Você é estragada emocionalmente”, diz-se. “Por que namoros começam bem e terminam uma bosta?”, pergunta-se. “Vou me fechar emocionalmente como George Clooney”, faz “auto humor” com “auto piedade”. O filme constrói aos poucos.

O início comporta-se como piegas, no campo do clichê, por forçar a piada. Mas ao longo da trama, ganha força dramática, sentimental, realista e natural. Os dois encontram-se. Ela, dizendo que é uma “recrutadora executiva, é menos esquisito que caçadora de talentos”, é de Nova York, uma cidade agitada, engarrafada, com pequenos espaços, e conta novidades por torpedo de celular por “ter um peso mais dramático”.

Ele, um jovem criativo pronto a aceitar uma proposta de trabalho em NY, por causa de seu blog com seis milhões de acesso, vem de Los Angeles, e diz “Gosto de espaços”. Assim, as diferenças dos dois referenciam-se pelas diferenças das cidades, misturando-se e conhecendo um pouco dos lugares. “NY, eu já vi Seinfield (serie de televisão de realismo pessimista)”, diz-se. “Não a versão terrorista”, rebate-se. A globalização metropolitana está presente.

Há flashmobs, porque “todo lugar pode ser considerado às vezes”, “como a Oprah (Winfrey)”; música de Janelle Monáe e Semisonic, este um pequeno retorno a um passado “próximo”; conversa no avião com Masi Oka (que viveu Hiro Nakamura, personagem da série de Televisão “Heroes”), Woody Harrelson fazendo um gay não estereotipado. Jamie é livre, leve viva e joga Wii. Ele, travado e certinho. Resolvem transar sem compromisso, como amigos – com benefícios, convivendo e respeitando as idiossincrasias de cada um. É inevitável o rumo desta história, que conduz a reviravoltas óbvias do gênero de comédia romântica. De uns tempos para cá, este gênero ficou menos infantil. A maturidade tenta recriar o sentido de contemporaneidade.

“Transar como jogar tênis. Sem culpa, emoção, complicação”, dizem jurando com mão na Bíblia (que está dentro de um Tablet), buscando o sexo técnico. Há inúmeros momentos engraçados e sagazes. A cena do mijo e lavar as mãos; as ações e reações da mãe dela, Lorna (Patricia Clarkson), que diz “Só amigos? Como nos anos 70”.

Os personagens são meios tortos, mas humanizados. Eles experimentam medos e vergonhas. É previsível, porém aceitável. Concluindo, um filme fofo, despretensioso, engraçado - e com ironia espirituosa - e interativo (principalmente nos créditos). Vale à pena assistir. Uma dica: após todos os créditos, há cenas com erros de gravação do filme que se encontra dentro deste filme. Recomendo.



O Diretor

Will Gluck (de “A Mentira”) também participa como um dos roteiristas.