Crítica: Serbis

Ficha Técnica

Direção: Brillante Mendoza
Roteiro: Armando Lao, Boots Agbayani Pastor
Elenco: Gina Pareño, Dan Alvaro, Mercedes Cabral, Julio Diaz, Bobby Jerome Go, Roxanne Jordan, Jacklyn Jose, Kristoffer King, Coco Martin
Duração: 90 minutos
País: Filipinas / França
Ano: 2008
COTAÇÃO: EXCELENTE

A opinião

“Serbis” aborda a vida de uma família filipina que possui um cinema pornô, chamado Family (família). A naturalidade capta a essência nas trivialidades e banalidades do cotidiano, como a receita popular para curar um furúnculo, limpar um banheiro e ou desentupir um ralo. As histórias não são julgadas e sim humanizadas. Cada um possui um motivo de ter feito o que fez. No lugar, travestis fazem programas (e cobram pelo serviço, tradução literal de Serbis – e desfilam pela escada como modelos), homossexuais frequentam por causa da “pegação” e há quem apenas passe o tempo (e observe). No meio de tudo isso, uma criança (excelente ator) brinca, anda de bicicleta e vê sem limites o que acontece, como a felação entre dois homens. É um cinema abandonado que também serve de moradia a proprietária (matriarca) e aos funcionários. Os membros dessa numerosa família são obrigados a lidar com o que há de pior nos outros. As histórias dos personagens são mostradas e interagem com os clientes, como uma cena de sexo oral, que mostra, sem pudores, sem vulgaridade, mais uma vez privilegiando a naturalidade, o “viado” felando o pênis do projecionista.

A nudez é um elemento de embasamento narrativo. O filme não possui o intuito de excitar e ou de chocar, mas transpassar a tela o cotidiano de pessoas comuns, que encontram no cinema um forma de extravasar seus desejos carnais. É uma família tentando sobreviver dentro da decadência. O roteiro apresenta a história antes de aprofundar. Os procedimentos de exibição também aparecem. A troca do filme, a preparação para a próxima sessão e a montagem manual criam a metalinguagem que interconecta o que se sente sobre o que se vê. “Deviam acertar essas diferenças na frente de um copo (bebida")”, sobre a briga passional. Os gays, extremamente afetados, chegam de van para mais um dia e conversam: “Era tão grande, que eu até engasguei”. O espectador é aprisionado na atmosfera apresentada. “Por que tomar banho?”, pergunta-se. “Porque você cheira azedo”, responde-se com simplicidade. A promiscuidade transmitida também não é julgada. Respeita-se o gosto e desejo dos personagens. Às vezes, um comentário, em diálogo solto, questiona tudo aquilo. “Sou enfermeira, o que faço aqui?”, diz-se. A ação continua até o fim, não desistindo e ou editando o tempo gasto. A naturalidade é a palavra definidora. Alcança gestos, ações, reações, diálogos, pensamentos. As mulheres possuem um papel importante.

São confiantes, decididas, contra o lado perdido dos homens. O pequeno observa tudo ao seu redor. A fotografia, granulada, participa como amadora, a fim de transmitir um tom quase documental. Como se alguém tivesse ligado uma camera invisível e captasse o verdadeiro eu de cada um. Quando a camera interage e transforma-se em personagem, percebemos que cada um ali tem a opção de mudança. A vida é como um filme, que quando queima, acaba. Concluindo, um excelente filme, extremamente natural e convincente. O filme causou agitação nas Filipinas e foi submetido à revisão de filme e televisão e Conselho de Classificação para exibição pública em 2008, sobrevivendo com dois grandes cortes de cenas de sexo, sendo classificado como R18. Tal foi o burburinho internacional, que foi convidado para competir no Festival de Cannes. Escrevendo para o New York Times, seu principal crítico de cinema Manohla Dargis descreveu o filme: "Os corpos celestes que povoam nossos filmes trazem seus próprios prazeres ... pousando na tela como se de um sonho Mas os corpos em ['Serbis'],. que recebeu pouco amor no Cannes 2008, não são enviados do céu, mas também não são fantoches em um pesadelo artificial. contrário, eles a luxúria, o desejo, suor e luta feroz com a verdade”.






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(Matéria Especial)