Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo

Ficha Técnica

Direção: Hugo Carvana
Roteiro: Paulo Halm
Elenco: Tarcísio Meira, Gregório Duvivier, Flávia Alessandra, Ângela Vieira, Mariana Rios, Herson Capri
Fotografia: Lauro Escorel
Música: Edu Lobo e Paulo Cesar Pinheiro
Direção de arte: Marcos Flaksman
Figurino: Kika Lopes
Edição: Diana Vasconcelos
Produção: Martha Alencar Carvana
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Globo Filmes
Duração: 99 minutos
País: Brasil
Ano: 2011
COTAÇÃO: MUITO BOM




A opinião

“Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo” é o novo longa-metragem do diretor / ator Hugo Carvana. Assim como todo cineasta, não dá para acertar sempre, como o seu penúltimo filme “A Casa da Mãe Joana”. Mas fez clássicos como “Vai Trabalhar Vagabundo”, “Bar Esperança” e “O Homem Nu”. A sua característica principal como diretor é o deboche. Em seus filmes, Hugo imprime crítica social, humor sarcástico – também pastelão - e narrativa que busca nas ações presentes o que irá acontecer adiante. Ele deixa acontecer, usando um roteiro despretensioso e sem esperar nada. No filme em questão, não poderia ser diferente.

O seu último projeto é uma homenagem declarada explicitamente à figura do ator e à arte da interpretação. Os protagonistas sobrevivem de pequenos enganações, tudo para que possam explorar os limites de se vivenciar a experiência de ser ator em tempo integral, como o espetáculo não pode parar. O elenco é de peso. Tarcísio Meira, Gregório Duvivier, Flávia Alessandra, Ângela Vieira, Mariana Rios, Herson Capri e outros fornecem perspicácia e naturalidade aos diálogos politicamente incorretos, porém com ingenuidade e energia de um pré-adolescente. Não se vê a idade, mas a vivacidade que todos encontram nos seus papéis.

O tom descontraído é percebido logo no início, na abertura engraçada, circense e psicodélica. Cria o universo atemporal quando inclui uma Kombi hippie. Com tomadas aéreas da Costal do Sol, no Ceará. Há uma apresentação em Stand Comedy do filho contando as aventuras que ele e o seu pai passaram. O bordão do pai é apresentado “Não se preocupe, nada vai dar certo”, que soa não depressivo, mas livre. Eles não buscam amarras sociais, apenas a arte de interpretar. “Um nome idiota para um cara idiota”, diz-se. Há shows pela estrada. Num road movie mambembe.

Eles são canastrões, manipuladores, tentando sobreviver às adversidades do caminho que são criadas por eles mesmos. A história é contada como um grande espetáculo, aludindo à própria vida. Tarcísio Meira vive o pai, que usa o drama a fim de conseguir o que quer. “Chorar é o recurso mais safado de um ator para conquistar a plateia”, diz-se. Nas apresentações solos, o que incomoda é que qualquer piada gera a reação de riso exagerado, fazendo graça com suas desgraças.

Ele lê Marlon Brando. “Um ator problema”, diz-se. Há as caricaturas mostradas sem clichê. Como o puteiro de interior. “Desde quando se trepa fiado, canalha”, diz-se. Não há pudores. Diz-se o que pensa e age se pensar. Mistura-se Dalai Lama com Madonna. Gregório Duvivier, o filho, aceita o contrato de interpretar um ator por 24 horas, por duas semanas. Há homenagem ao Retiro dos Artistas, sem ser óbvio e clichê também. Transpassa uma liberdade ingênua. “Ator tinha que morrer no palco, aplaudido”, filosofa-se.

É recorrente a auto ironia. “Será que a gente herda os demônios do pai da gente?”, pergunta-se. É tudo pelo espetáculo. Acontecimentos o levam a ser envolvido em um crime. Farsa? Armação? A narrativa leve conduz a trama sem expectativas. O final, um grande musical. Destaque para o ator / diretor Hugo Carvana em tela, fazendo uma participação. Concluindo, um filme despretensioso, divertido, leve, sem esperar nada, debochado, com aprofundamentos sérios e existenciais nos momentos certos. Vale muito a pena assistir. Recomendo. As filmagens ocorreram nos meses de março e abril de 2010, na cidade do Rio de Janeiro e no litoral do Ceará.



O Diretor

Hugo Carvana de Hollanda (Rio de Janeiro, 4 de junho de 1937) é um ator e diretor de cinema e televisão brasileiro. É também torcedor ilustre do Fluminense. Em vários filmes interpretou a imagem do malandro carioca, tendo estreado na direção com Vai trabalhar, vagabundo no ano de 1973, filme no qual também atuou.

Filmografia

2011 - Não se preocupe, nada vai dar certo
2008 - Casa da Mãe Joana
2003 - Apolônio Brasil - O campeão da alegria
1997 - O homem nu
1991 - Vai trabalhar, vagabundo II
1982 - Bar Esperança, o último que fecha
1978 - Se segura malandro
1973 - Vai trabalhar, vagabundo

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