Restrepo

Ficha Técnica

Direção: Tim Hetherington, Sebastian Junger
Roteiro: Documentário
Elenco: Juan Restrepo, Dan Kearney, LaMonta Caldwell, Aron Hijar, Misha Pemble-Belkin, Miguel Cortez, Sterling Jones, Brendan O'Byrne, Joshua McDonough
Fotografia: Tim Hetherington, Sebastian Junger
Música: Ruy Garcia
Edição: Michael Levine
Produção: Tim Hetherington, Sebastian Junger
Distribuidora: Europa Filmes
Estúdio: Passion Pictures, Outpost Films
Duração: 93 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: BOM



A opinião

“Restrepo” representa mais um documentário que traz a visão de um pelotão de soldados americanos que estiveram a serviço na ocupação do Afeganistão entre maio de 2007 e julho de 2008. Os diretores fizeram parte do 503º Regimento de Infantaria e Combate Aéreo, com direito a 150 horas de filmagens de combate, além de partilhar as frustrações, rotina, piadas e a visão daqueles homens. Com produção do National Geographic Channel, o filme inicia com camera pessoal e amadora, traçando um diário de “viagem” desses soldados uma semana antes da ocupação ao posto avançado no vale do leste afegão. A narrativa possui depoimentos, muitas imagens de confrontos, transpassando o despreparo destes combatentes. “Quando fui pra lá não quis saber nada sobre o local. Fui de mente aberta”, diz-se com moral americana e com direção unilateral, tendo os americanos como os mocinhos e os moradores do vale como bandidos. Há o dia-a-dia da espera, com narrativa editada e música afegã. O vale “um lugar longe de tudo com tiroteios todos os dias”. Entender a sociedade americana é necessário observar o lado cinematográfico do país.

Na América, todos parecem que estão encenando. Não há naturalidade. Eles gostam do melodrama de efeito. “Próximo ao aniversário da minha mãe”, diz-se, buscando o lado emocional. Isso prejudica a veracidade do gênero documentário. O realismo se dá pelas ações (físicas – como a trajetória concreta do tiro) e não pelas “interpretações”. A camera participa desejando ser um personagem. Ser um soldado. Transpassar ao espectador o que está sendo mostrado, porém com cortes e melhores ângulos. “Restrepo” é um combatente que morreu em batalha, por causa disso deram o nome ao forte que ficaram. O objetivo deles é “conectar” com o povo nato, impondo regras e modificando a cultura própria quando oferecem suco industrializado ao invés de aceitarem o chá local. É unilateral. Em determinado momento, o filme tenta saber da criação de um soldado a modo de criar paralelo com o desconhecimento da causa utópica que eles se meteram. O preconceito é recorrente quando humilham em palavras: “Chupa, cabeça de turbante”. Há o violão para passar o tempo, há a música eletrônica, há os desenhos do local, há o banho de sol, há as picardias. “Tomando corações e mentes”, resume-se o “valor” de uma guerra.

Antes queriam conectar – consulta semanal com os anciãos do Vale, agora pressionam sem saber a direção certa a seguir. Querem impor o progresso. Não há respeito. Estão perdidos e não conhecem o “inimigo”. Desconhecem até os costumes – matar uma vaca é ilegal. Mesmo a narrativa abordando o lado salvador dos americanos, podemos, sutilmente, perceber a crítica da manipulação. Eles querem sair dali. Foram, ficaram um tempo, a realidade tomou conta, brincaram de guerra e sairão dali como heróis de guerra. “Preciso saber mais para não matar inocentes – mulheres e crianças – e não enfurece-los. As primeiras impressões são as únicas impressões”, diz-se. Eles são os novos colonizadores. Aqueles que seguem regras alienadas e massificadas repetidas pelo senso comum. A vida após o que foi mostrado desperta fantasmas e pesadelos. Quando saem dali, estão felizes. Concluindo, mais um longa que mostra o cotidiano editado de uma guerra, com algumas sacadas perspicazes mas nada de novo. Indicado ao OSCAR 2011 - Melhor documentário, ao INDEPENDENT SPIRIT AWARDS. Ganhou NATIONAL BOARD OF REVIEW 2010 - Melhor documentário e FESTIVAL DE SUNDANCE 2010 - Grande Prêmio do Júri.


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Os Diretores

Sebastian Junger nasceu em 1962, nos EUA. Formou-se em Antropologia Cultural em 1984 e foi jornalista em diversas guerras. Entre outros, publicou os livros A Tormenta (1997) e War (2010). Tim Hetherington nasceu na Inglaterra em 1970. Estudou Literatura na Universidade de Oxford e completou a pós-graduação em Foto-jornalismo em 1996. Tendo trabalhado como fotógrafo de guerra para a World Press Photo, documentou guerras como as da Libéria, Serra Leoa e Nigéria.